Com as devidas proporções, o sucesso do último livro de Joseph Moingt (foto) se assemelha ao do famoso Indignai-vos!, de Stéphane Hessel. Em ambos os casos, trata-se de um velho senhor que não tem mais nada a temer nem a demonstrar e que pode se permitir, com a legitimidade que lhe conferem as décadas de trabalho e de compromisso corajoso, dizer em voz alta o que muitos apenas pensam ou dizem em voz baixa. A reportagem é de Claire Lesegretain, publicada no jornal La Croix, 14-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: UNISINOS
No entanto, esse jesuíta de 96 anos deseja dizer aos seus leitores, às vezes tentados a deixar a Igreja, não tanto Indignai-vos! mas sim Ficai!.
Croire quand même, publicado no fim de 2010 [1], vendeu mais de 8.000 cópias e está em curso a segunda edição. "Recebi muitas cartas de agradecimento de leigos e de padres, mas curiosamente nenhum eco do episcopado", diz, divertido, o padre Moingt, estreitando os travessos olhos azuis. Os leitores "sentem confusamente que a opção escolhida por Roma de um retorno ao passado não é a melhor forma de preparar o futuro do cristianismo. Depois de me terem lido, dizem-se fortalecidos na sua fé e encorajados a permanecer na Igreja". Há um ano, Croire quand même também suscita muitos grupos de leitura em toda a França e é motivo de muitos convites para conferências.
Um sábado, lá está ele com a sua figura miúda na abadia de Saint-Jacut-de-la-Mer (Côtes-d'Armor) para uma jornada aberta ao grande público. Diante de 150 pessoas, a maior parte de cabelos grisalhos, ele começa a percorrer a sua obra de teólogo, marcada pelos "dois grandes choques", o do Vaticano II e o de Maio de 68. "Desde então, os teólogos não se dirigem mais apenas a futuros padres, mas são convocados no meio dos fiéis para esclarecer seus problemas", aponta, antes de expor a sua análise da crise na Igreja.
Uma crise que, segundo ele, é "a mais grave" que o cristianismo já conheceu há dois milênios, porque trata-se de uma crise civilizacional. "O nosso mundo está prestes a rejeitar Deus", resume, citando Dietrich Bonhoeffer, que, antes de morrer na prisão nazista, percebia que o mundo "estava se libertando da ideia de Deus". É através dessa chave de leitura que Moingt fala da "primavera árabe", sinal não da "destruição do Islã, mas sim da desagregação de um espaço social que havia sido cimentado pela lei religiosa". Porque, lembra, "a vontade de Deus é que o homem se liberta de seus entraves, incluindo aqueles postos em nome de Deus".
Pedagogia
O Pe. Moingt não foge das perguntas que lhe são feitas, porque também são as suas perguntas. Com pedagogia, permite que seus interlocutores se beneficiem com a sua visão histórica sobre o longo prazo, para relativizar as atuais tensões dentro da Igreja. Algumas semanas depois, em seu quarto-escritório da Rue Monsieur, no 7º arrondissement de Paris, ele continua as suas reflexões sobre o futuro da Igreja. "Tenho um grande temor de que um número crescente de fiéis só queira respostas com um 'sim' ou com um 'não', e não consigam entrar nas sutilezas teológicas", resume.
Como dizer a humanidade de Cristo se ele nasceu de uma mulher virgem? Como explicar a Trindade? Como falar da Revelação, da Encarnação, da Redenção, se considerarmos que os textos do Antigo Testamento são apenas relatos inventados? Como pronunciar em cada Eucaristia: "Isto é meu corpo", se se trata de uma metáfora? Em que basear o sacerdócio, já que nenhum dos Apóstolos foi feito padre ou bispo por Jesus?... São todas perguntas complexas que efetivamente requerem respostas aprofundadas e que ocupam a mente do teólogo há mais de 60 anos.
Ela tinha 23 anos, no fim de 1938, quando entrou na Companhia de Jesus. Não tendo tempo, antes da mobilização, de terminar os 12 meses do noviciado, teve que refazer um ano inteiro em Laval (Mayenne) no grande noviciado da época.
Durante a guerra, o aprendiz de jesuíta ficou prisioneiro em vários stalags para suboficiais que se recusavam a trabalhar para o Terceiro Reich. Ele conseguiu escapar de um campo na Suábia, foi depois enviado para Kobierczyn, perto de Cracóvia, depois para um outro campo do qual foi libertado em 1945 pelo exército do general Patton... Mas, de repente, o Pe. Moingt interrompe o relatos das suas memórias: "Não tenho o hábito de me delongar sobre a minha biografia, não interessa a ninguém", sorri ele, com aquela gentileza divertida que o caracteriza. Antes de acrescentar que, "desde o retorno do cativeiro, por princípio, não retorno ao passado".
Marcado por Henri de Lubac
Conseguimos saber apenas que, depois de dois anos de filosofia em Villefranche-sur-Saône e depois de quatro anos de teologia em Fourvière, na colina de Lyon onde a Companhia de Jesus tinha uma faculdade até 1974, ele foi nomeado professor de teologia. Foi então enviado para a Universidade Católica de Paris para preparar uma tese sobre A teologia trinitária em Tertuliano, que defendeu, três anos depois, sob a orientação do jesuíta e futuro cardeal Jean Daniélou.
"Entre os jesuítas daquela época, fui marcado sobretudo por Henri de Lubac, que lecionava na Universidade Católica de Lyon e com quem eu trabalhei sobre Clemente de Alexandria", diz, antes de acrescentar a essa lista de grandes figuras os nomes de Gaston Fessard, Henri Bouillard, Xavier Léon-Dufour e Donatien Mollat...
Depois de doze anos de ensino em Fourvière, o Pe. Moingt pediu um ano sabático na Paris de 1968, para "por-se a par das novidades em teologia, filosofia e ciências humanas". Mas a Universidade Católica de Paris, que começou em 1969 o seu Ciclo C, um curso noturno de formação para leigos, deu-lhe o cargo de professor de cristologia.
Ele também lecionou na Centro Sèvres a partir de 1974, e em Chantilly (Oise), tradicional lugar de formação da Companhia de Jesus. Isso lhe permitiu afirmar que "todos os jesuítas que entraram na Companhia depois de 1960 e até muitos bispos atuais" passaram por ele. Nesses mesmos anos, Pe. Moingt assumiu a direção da prestigiosa revista Recherches de Science Religieuse, que comemorou os seus 100 anos em 2010. A partir de 1980, tendo deixado a Católica para se aposentar aos 65 anos, o jesuíta continua lecionando no Centro Sèvres, fazendo suas pesquisas teológicas e a publicando importantes obras.
"Eu tenho outra obra em construção, mas não será um livro para o grande público", especifica, sabendo que não terá o tempo para popularizar o seu trabalho: "Outros se encarregarão disso depois da minha morte".
Ser cristão
Hoje, ele continua se relacionando com as comunidades de base das quais participou, seja no âmbito do catecumenato, seja durante as suas experiências paroquiais em Châtenay-Malabry (Hauts-de-Seine) por 12 anos, depois em Poissy (Yvelines) e em Sarcelles (Val-d'Oise), respectivamente por três anos.
Trata-se de "leigos que frequentam a Eucaristia, mas que precisam se encontrar fora da sua paróquia para partilhar o Evangelho ou releituras de vida"; leigos cada vez mais preparados que "sentem que ser cristão nada mais é do que ser homem, e que assumem a responsabilidade do seu ser-cristão assumindo a responsabilidade do destino da humanidade".
Porque, para Joseph Moingt, não é se concentrando na instituição eclesial que se poderá realizar uma reforma radical do catolicismo, mas sim voltando ao Evangelho. "Há a urgência de repensar toda a fé cristã para dizer 'Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem' na linguagem de hoje e em continuidade com a Tradição", repete, baseando-se na sua imensa cultura teológica e bíblica para confirmar que a Igreja não poderá mais seguir em frente com respostas dogmáticas e que é preciso que, dentro dela, os teólogos "façam coisas novas sem ser serem ameaçados de excomunhão". Quanto a ele, a sua prudência nunca foi motivada pelo medo de uma sanção eclesial, mas sim pelo desejo de escrever de acordo com a sua fé. E, depois, "na minha idade, já não se corre muito risco".
Nota:
1 - Croire quand même, Libres entretiens sur le présent et le futur du catholicisme, com Karim Mahmoud-Vintam e Lucienne Gouguenheim. Ed. Temps Présent, Coleção "Semeurs d’avenir", 245 páginas.