Dom Vincenzo Paglia, arcebispo de Terni, recém voltou de El Salvador. Lá naquele país de diversas belezas, os salvadorenhos vão agora às praças há meses. O que querem? Simplesmente, querem dar uma acelerada no processo de beatificação de Dom Óscar Arnulfo Romero. E sobre essa questão que envolve amor e liturgia, vão periodicamente às praças "para exigir que o Estado peça perdão publicamente pela morte assassina de Dom Romero". A reportagem é de Igor Man, publicada no jornal La Stampa, 13-11-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto. Fonte: UNISINOS
Como excelente diplomata, Dom Paglia diz e não diz, buscando tranquilizar um pouco todos. Romero foi nomeado arcipreste de San Salvador com a permissão das 14 famílias salvadorenhas que o consideravam um "padre alinhado". Mas um longo reconhecimento de fiéis de sua confiança o convenceu a descer à realidade – verdadeira –, e foi assim que a sua homilia dominical assumiu o papel de uma denúncia, mas cristã, de uma acusação dos parafascistas da Arena.
Em resumo: sob o impulso de uma opinião popular sempre mais forte, a homilia de Dom Romero se tornou uma espécie de apontamento da esperança, uma denúncia corajosa das intrigas do poder.
Nunca se havia visto a catedral transbordando em El Salvador, nunca a denúncia do celebrante foi tão participativa. O pequeno escritório de Romero na catedral se transformou em sucursal do Correio.
A quem lhe recomendava "prudência, prudência", Romero respondia sereno: "Mas no máximo poderão me tirar. E daí?". Embedidos de ódio, os neofascistas da Arena decidiram em um encontro mafioso que "apagariam a vela". E a morte de Romero foi marcado. No dia 24 de março de 1980, o major d’Aubuisson e dois assassinos irromperam na capela de uma clínica privada. Dom Romero não piscou e, exatamente enquanto elevava a hóstia da comunhão, o assassino disparou. Um só tiro, um só cartucho que acertou a veia jugular de Dom Romero.
O sacerdote curvou-se sobre si mesmo na vã tentativa de proteger a hóstia – e com ela entre os dedos, caiu. O seu sangue de agricultor manchou os paramentos.
A morte de Dom Romero foi o prelúdio, o longo prelúdio do retorno. Simplesmente para a liberdade. Teoricamente, a guerra prolongada saiu da porta de serviço, mas de fato não terminou.
El Salvador é um país mártir, porque, se é verdade que não se combate mais e que há um Parlamento etc., também é verdade que quem comanda são sempre as 14 famílias, habilíssimas em perpetuar uma espécie de pós-moderno medieval, em que imperam os senhores, e os agricultores labutam, labutam sempre, em troca de escassas mercadorias. E, lenta, aparece a justiça social.
Na sua última homilia na catedral, Dom Romero concluiu assim, com a voz destroçada de emoção: "Os Estados Unidos colocam as armas. A URSS coloca as armas. El Salvador coloca os mortos. Em nome de Deus: deixem-nos a sós".
No dia seguinte, 24 de março de 1980, o major d’Aubuisson o matava, durante a Elevação.