15/11/2009

Dom Vincenzo Paglia


Romero, santo pela liberdade

Dom Vincenzo Paglia, arcebispo de Terni, recém voltou de El Salvador. Lá naquele país de diversas belezas, os salvadorenhos vão agora às praças há meses. O que querem? Simplesmente, querem dar uma acelerada no processo de beatificação de Dom Óscar Arnulfo Romero. E sobre essa questão que envolve amor e liturgia, vão periodicamente às praças "para exigir que o Estado peça perdão publicamente pela morte assassina de Dom Romero". A reportagem é de Igor Man, publicada no jornal La Stampa, 13-11-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto. Fonte: UNISINOS


Como excelente diplomata, Dom Paglia diz e não diz, buscando tranquilizar um pouco todos. Romero foi nomeado arcipreste de San Salvador com a permissão das 14 famílias salvadorenhas que o consideravam um "padre alinhado". Mas um longo reconhecimento de fiéis de sua confiança o convenceu a descer à realidade – verdadeira –, e foi assim que a sua homilia dominical assumiu o papel de uma denúncia, mas cristã, de uma acusação dos parafascistas da Arena.

Em resumo: sob o impulso de uma opinião popular sempre mais forte, a homilia de Dom Romero se tornou uma espécie de apontamento da esperança, uma denúncia corajosa das intrigas do poder.

Nunca se havia visto a catedral transbordando em El Salvador, nunca a denúncia do celebrante foi tão participativa. O pequeno escritório de Romero na catedral se transformou em sucursal do Correio.

A quem lhe recomendava "prudência, prudência", Romero respondia sereno: "Mas no máximo poderão me tirar. E daí?". Embedidos de ódio, os neofascistas da Arena decidiram em um encontro mafioso que "apagariam a vela". E a morte de Romero foi marcado. No dia 24 de março de 1980, o major d’Aubuisson e dois assassinos irromperam na capela de uma clínica privada. Dom Romero não piscou e, exatamente enquanto elevava a hóstia da comunhão, o assassino disparou. Um só tiro, um só cartucho que acertou a veia jugular de Dom Romero.

O sacerdote curvou-se sobre si mesmo na vã tentativa de proteger a hóstia – e com ela entre os dedos, caiu. O seu sangue de agricultor manchou os paramentos.

A morte de Dom Romero foi o prelúdio, o longo prelúdio do retorno. Simplesmente para a liberdade. Teoricamente, a guerra prolongada saiu da porta de serviço, mas de fato não terminou.

El Salvador é um país mártir, porque, se é verdade que não se combate mais e que há um Parlamento etc., também é verdade que quem comanda são sempre as 14 famílias, habilíssimas em perpetuar uma espécie de pós-moderno medieval, em que imperam os senhores, e os agricultores labutam, labutam sempre, em troca de escassas mercadorias. E, lenta, aparece a justiça social.

Na sua última homilia na catedral, Dom Romero concluiu assim, com a voz destroçada de emoção: "Os Estados Unidos colocam as armas. A URSS coloca as armas. El Salvador coloca os mortos. Em nome de Deus: deixem-nos a sós".

No dia seguinte, 24 de março de 1980, o major d’Aubuisson o matava, durante a Elevação.