19/07/2010

Vittorio Cristelli

Caminhar sobre a estrada da fé

Artigo do padre e jornalista italiano Vittorio Cristelli, publicado na revista Vita Trentina, revista da diocese de Trento, na Itália, 18-07-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: UNISINOS




Acho iluminadora e exaustiva a descrição que o teólogo espanhol Juan Masià faz da situação atual da Igreja. Imobilizada pelo escândalo da pedofilia que surgiu entre os seus padres; caluniada e suspeita por causa da administração dos seus bens com um cardeal que negocia com clãs de negociadores, até mesmo condecorados com o título honorífico de "gentis-homens de Sua Santidade"; criticada por causa da presença do cardeal secretário de Estado no jantar organizado por Bruno Vespa, no qual se falou da reorganização do atual governo; preocupada com a deserção dos grupos que confluem nas seitas, mas também com a secularização e até com o refúgio no agnosticismo, principalmente dos jovens: essa é a Igreja de hoje.

Juan Masià localiza quatro "vias" que ele vê que estão sendo percorridas atualmente na Igreja e ele faz isso com a parábola sugestiva do caminho da montanha. Era uma vez – disse – um caminho da montanha, estreito, com um precipício de um lado e uma escarpa do outro. Cai a escuridão, e o caminho se torna perigoso.

Há quem prefira se embrenhar pelo bosque e chega a um planalto para passar a noite. De manhã, consideram-no cômodo e amplo. Encontrando-se bem, constroem ali antes uma paliçada de defesa, depois um pequeno castelo no qual se instalam, renunciando a caminhar além.

Um segundo grupo, avança sobre o caminho, apesar da noite, mas em certo ponto encontram uma gruta e ali se refugiam, renunciando caminhar além, exatamente como os da planície. O lugar é apertado, mas suficiente para o grupo.

Um terceiro grupo é o dos indecisos e temerosos, que param em uma encruzilhada por prudência. No dia seguinte, procuram alcançar aqueles do castelo e os da gruta, mas não para avançar, mas sim para fazer número – hoje diríamos massa crítica – para assim ter mais poder.

Por fim, há um quarto grupo, pouco numeroso, que decide continuar caminhando apesar da noite. Seguram-se pelas mãos para não se perder e continuam caminhando durante dias e noites. No caminho, encontram outros grupos provenientes de outros lugares, vestidos de modos diferentes e falando outras línguas. Unem-se a eles e fazem uma única comitiva. Contando uns aos outros suas próprias histórias, vão rumo à mesma meta.

Fora da metáfora, os do castelo são os cristãos da Igreja-instituição. Os da gruta são os rebeldes que se espremem em uma seita. Os da encruzilhada são os cristãos da prudência e da moderação, que procuram atrair os primeiros e os segundos, mas para ter mais poder e não para caminhar. E os que avançam apesar da noite são os cristãos que se deixam levar pelo vento do Espírito, que se transformam nos vários encontros com os outros homens de outras regiões, raças e línguas, mas nunca renunciam a caminhar.

O teólogo espanhol diz sinteticamente: "A Igreja, ao longo de dois mil anos, oscilou entre a tentação de se transformar em instituição, a tentação de se tornar seita e a tentação de cair no imobilismo por excesso de prudência. Mas o Espírito suscita repetidamente um novo Pentecostes por meio do quarto caminho. Também hoje".

Encontrei nestes dias dois apelos e exortações a caminhar, também na Itália. O primeiro de Pietro Citati, que, percebendo na Igreja um certo pessimismo e uma tristeza unidos à tentativa de superar a crise provocada pela pedofilia só por meio do justicialismo, recorda que a fé cristã é anúncio de alegria, de festa de esperança. Porque é "graça humanizada".

Encontrei o segundo em um texto de Paolo Giannoni, o eremita presente e inspirador dos encontros em Florença da "Igreja do incômodo". Ele escreve assim: "Não partimos das nossas forças, mas da convicção de que o Espírito está nas trevas do abismo como presença amorosa, salvífica, unificante, com uma doçura de grande esperança e confiança". Giannoni também exorta a ter "fé na fé".