Revolução na pátria de Ratzinger. Um terço dos teólogos católicos de fala alemã residentes na Alemanha, Suíça e Áustria (144 professores de Teologia católica), subscreveu um manifesto em que exigem profundas reformas da Igreja católica, que incluam, entre outras, o fim do celibato, o sacerdócio feminino e a participação popular na escolha de bispos. A reportagem está publicada no sítio espanhol Religión Digital, 04-02-2011. A tradução é do Cepat.
Fonte: UNISINOS
Os assinantes representam mais de um terço dos 400 teólogos da região de fala alemã, segundo revela o jornal Süddeutsche Zeitung, em que se afirma que seu número seria maior se muitos não tivessem negado sua rubrica por medo de represálias.
A iniciativa representa, além disso, o mais importante levantamento contra a cúpula da Igreja católica nos últimos 22 anos, quando 220 teólogos subscreveram, em 1989, a chamada Declaração de Colônia, crítica com o governo da Igreja exercido por João Paulo II.
A professora de Teologia de Münster Judith Könemann, uma das oito pessoas que redigiram o manifesto, reconhece que teriam se contentado com 50 assinaturas, mas destaca que o amplo eco demonstra que “tocaram um nervo”, em declarações ao citado jornal.
Entre os que assinam o documento destacam-se prestigiosos professores eméritos como Peter Hünermann e Dietmar Mieth, velhos lutadores pelas reformas como Heinrich Missalla e Friedhelm Hengsbach, progressistas como Otto Hermann Pesch ou Hille Haker, mas também conservadores como Eberhard Schockenhoff.
Redigido com os escândalos de pederastia no interior da Igreja católica como transfundo, o texto é prudente e louva também o chamamento dos bispos a um diálogo aberto.
Após explicar que se veem “na responsabilidade de dar uma contribuição a um novo começo real”, a tese central do memorando destaca que a Igreja católica só “pode anunciar o libertador e amante Deus Jesus Cristo”, quando ela mesma “for um lugar e um testemunho crível da mensagem de libertação do Evangelho”.
Deve reconhecer e fomentar “a liberdade do homem como criatura de Deus”, respeitar a consciência livre, defender o direito e a justiça e criticar as manifestações que “depreciam a dignidade humana”.
Suas exigências, que prudentemente qualificam de “desafios”, incluem “maiores estruturas sinodais em todos os níveis da Igreja” e a participação dos fiéis na escolha de seus bispos e párocos.
O manifesto destaca que a Igreja católica necessita “também de sacerdotes casados e mulheres no ofício eclesiástico”, assinala que a falta de sacerdotes força a exigência de paróquias cada vez maiores e lamenta que os sacerdotes sejam “queimados” diante destas circunstâncias.
Destaca igualmente que “a defesa legal e a cultura do direito” na Igreja devem “melhorar urgentemente” e comenta que a elevada valorização do matrimônio e do celibato supõe “excluir pessoas que vivem o amor, a fidelidade e a preocupação mútua” em uma relação estável de casal do mesmo sexo ou como divorciados casados em segundas núpcias.
O manifesto critica, além disso, o “rigorismo” da Igreja católica e destaca que não se pode pregar a reconciliação com Deus sem criar as condições para uma reconciliação com aqueles “diante dos quais é culpada: por violência, por negar o direito, por converter a mensagem bíblica de liberdade em uma moral rigorosa sem misericórdia”.
“À tempestade do ano passado (em referência aos escândalos de pederastia) não pode seguir tranquilidade nenhuma”, afirma o texto, que considera que “nas circunstâncias atuais só pode ser a tranquilidade da sepultura”.
E depois de exigir diálogo e comentar que o medo não é bom conselheiro, recorda que os cristãos foram “chamados pelo Evangelho a olhar com valor para o futuro e como o chamamento de Jesus a Pedro para caminhar sobre as águas: ‘por que estais com medo? Vossa fé é tão pequena?’”.