21/01/2009

Frei Luiz Carlos Susin

Fórum Mundial em Belém/PA

Concebido no interior de Fórum Social Mundial de janeiro de 2003, em Porto Alegre, chega à terceira edição o Fórum Mundial de Teologia e Libertação. Desta vez, como a aproximação ao Fórum Social Mundial se tornou um critério, vai acontecer em Belém/PR, às vésperas do Fórum Social Mundial, de 21 a 25 de janeiro. Com três edições, a primeira em 2005, em Porto Alegre/RS, a segunda em 2007, em Nairóbi, capital do Quênia, e agora a terceira em Belém, já temos um pouco de história para contar: como o Fórum Social Mundial, começamos em poucos, de tal forma que o primeiro pareceu mais um “congresso constituinte”, já que foi um fórum apenas sob convite, mantendo representatividades continentais, para que houvesse não só uma primeira aproximação do estado atual das teologias cristãs ao redor do mundo, mas também algumas decisões sobre o caminho a ser percorrido. Foi portanto, um primeiro fórum “fundador”. Na ocasião, adotando o mesmo lema esperançoso do Fórum Social Mundial – Outro Mundo é Possível - foram desenvolvidos alguns traços muito gerais sob os quais aconteceram os debates: Deus para outro mundo possível, Religião para outro mundo possível, Teologia para outro mundo possível. As conferências e painéis, juntamente com um panorama global da teologia por continentes, foram publicados no livro Teologia para outro mundo possível (SUSIN Luiz Carlos [org], São Paulo: Paulinas, 2006). O livro está traduzido para espanhol e inglês.

O Fórum Mundial de Teologia e Libertação se estruturou com um Comitê Organizador, composto das instituições e organizações que criaram o processo inicial, um Comitê Internacional para representar as regiões, e uma secretaria permanente em Porto Alegre. Para cada Fórum se cria um Comitê Local de sustentação da realização. Assim nos lançamos para a segunda edição, em Nairóbi. As consultas nos levaram a focar como grande lema do segundo Fórum, a experiência espiritual: Espiritualidade para outro mundo possível! Houve grande unanimidade em tratar do coração da experiência cristã, a relação circular entre espiritualidade e engajamento no mundo. Em Nairóbi houve uma abertura para diálogo inter-religioso, o que ocorreu com grande liberdade e confiança mútua, com fortes interrogações mútuas também. Esta é a vantagem de um Fórum sem oficialidade das autoridades das Igrejas ou Religiões, mas de pessoas preocupadas e intelectualmente preparadas para um debate franco num mundo em que a relação das diferentes tradições religiosas se torna importante para a convivência e a paz.

Esta terceira edição, que acontece em plena Amazônia, se volta para o cuidado ecológico, e também nisso a teologia quer dar sua contribuição. As crenças, a sensibilidade espiritual, os valores sagrados, são uma faca de dois gumes: podem potencializar a destruição ou a redenção da mãe terra. Uma sacralização do domínio, da apropriação, do crescimento sem medidas, torna impossível a mudança que hoje necessitamos para a continuidade da vida na terra. As tradições espirituais têm potencial, no entanto, para focar a sacralidade que envolve toda forma de vida, inclusive, é claro, a forma frágil da carne humana. Na Amazônia, o planeta é mais água do que terra, e o casamento de água e terra é tão intenso que os amazônidas insistiram para que o lema juntasse “Água e Terra para outro mundo possível”. É assim que vamos a Belém, com um crescimento expressivo de participantes já inscritos, com uma multiplicidade de ofertas de oficinas, com algumas novidades, como um espaço de “Café teológico”, outro espaço para audiovisuais, e com uma participação expressiva não apenas de teólogos e teólogas, mas de membros de movimentos e pastorais sociais, de pessoas interessadas na proposta do Fórum, que pode ser consultada no site: www.wftl.org.