Ocorre entre os dias 23 e 31 de agosto, em Ávila, na Espanha, o Congresso Internacional "O livro da Vida", organizado pelo Centro Internacional Teresiano Sanjuanista (Cites). A reportagem é de Cristiana Dobner, publicada no jornal L'Osservatore Romano, 24-08-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto e revisada pela IHU On-Line. O Cites e a Universidade da Mística dos Carmelitas Descalços têm suas sedes em Ávila, terra que imediatamente evoca Teresa de Jesus. Francisco Javier Sancho Fermín, diretor do Cites, fala sobre o Congresso Internacional, que estará centrado no "Livro da Vida", escrito pela santa.
Qual é o rosto do Cites? O que expressa essa sigla?
O Centro Internacional Teresiano Sanjuanista nasceu em 1986 por decisão do Definitório Geral da Ordem dos Carmelitas Descalços, com uma vocação internacional que busca sobretudo aprofundar e difundir, em todos os níveis, a vida, a doutrina e a experiência dos dois grandes mestres da mística cristã: Teresa de Jesus e João da Cruz. Um projeto muito simples e direcionado inicialmente apenas aos membros da Ordem, como centro de formação e especialização, mas os diversos pedidos de cursos, de formação e de aprofundamento da mística do Carmelo, aos poucos, fizeram com que se abrisse as portas para dar uma resposta a essa sede de espiritualidade e de experiência de Deus, das quais os homens de hoje têm necessidade.
Por isso, em 2008, nasceu a Universidade da Mística, que busca oferecer o espaço e a formação àqueles que, de todas as partes do mundo, querem satisfazer a sede profunda de Deus: um lugar aberto ao estudo, à experiência de Deus, à fraternidade, à oração, que oferece atividades em todos os níveis: para estudiosos e especialistas, para simples cristãos. No fundo, a missão é levar adiante o grande desejo e projeto de Teresa de Jesus e de João da Cruz: ajudar o homem de todos os tempos a ter uma relação existencial e experiencial com Deus.
Qual é o significado de um congresso internacional dedicado a um livro escrito por uma freira do século XVI?
Se o objetivo desse congresso internacional fosse apenas aproximar a um livro escrito no século XVI, seria interessante só do ponto de vista histórico e literário. Porém, o objetivo não é simplesmente preencher um currículo acadêmico. O "Livro da Vida" de Santa Teresa é um livro "vivo", no sentido de que é testemunha de uma profunda experiência de Deus que, ao longo dos séculos, conseguiu mover tantas pessoas a tomar uma decisão consciente por Deus, por exemplo, Edith Stein.
O fato de Teresa freira ser também a primeira mulher doutora da Igreja, e doutora principalmente por aquilo que se refere à oração e à experiência de Deus, também é testemunho válido da salvação que Deus continua realizando em cada pessoa. Em poucas palavras, não se pode destacar toda a riqueza presente nessas páginas de Teresa. Dizer, porém, que é uma mulher que viveu a grandeza do seu ser mulher no encontro com Deus abre as portas a muitíssimas conclusões existenciais das quais sempre temos necessidade.
Por que esse primeiro congresso internacional?
Esse encontro quer ser o início de um caminho que nos leva a 2015, ano da celebração do quinto centenário do nascimento de Santa Teresa. No Carmelo, acreditamos, depois da experiência não tão distante de outros centenários, que não deve chegar só com a ideia de fazer festa ou de preparar um jubileu. A ideia é muito mais ambiciosa: queremos verdadeiramente fazer um caminho de formação profunda do pensamento e da experiência mística de Teresa, mas também ser capazes de ver a sua atualidade e sua capacidade de diálogo e encontro, seja com as outras ciências, seja com as outras religiões e os diversos estados de vida. Percorrer, assim, novos caminhos, redescobrindo uma Teresa de Jesus capaz de oferecer "vida" a todas as pessoas: uma resposta e uma solução às graves crises do homem e da Igreja [confira aqui a programação do congresso].
A quem é dirigido o congresso?
O congresso, justamente por isso, é aberto a todas as pessoas. Certamente, tocam-se questões de grande profundidade e especialização, mas, pelo fato de falarmos principalmente de uma "experiência", de algo que, de um modo ou de outro, pode ser oferecida a todos, sejam ou não conhecedores de Teresa.
Quem quis e como foi administrada uma experiência tão completa?
Há anos, na medida em que nascia o projeto da Universidade da Mística, uma das ideias principais era a organização de congressos internacionais, como os quatro de 2010 com temas diversos. Foi decisiva a criação da Comissão Internacional de Preparação do Centenário, que, na seção cultural, comprometeu-se com a organização dos congressos teresianos, para aprofundar a leitura anual de uma das obras de Teresa até 2015.
Qual é a expectativa dos Carmelitas e das Carmelitas Descalças e de todos os que olham para Teresa como Mãe da vida no Espírito?
Ser capaz de levar adiante hoje o desejo e a missão de Teresa: fazer com que tantos homens e mulheres, cristãos e não cristãos, se tornem "verdadeiros amigos de Deus". O caminho a seguir são os passos de Teresa: conhecê-la melhor para conhecer mais profundamente a Deus, abrir-nos à experiência do Deus vivo, verdadeiro e misericordioso e ser capazes de testemunhar com a própria vida o Deus Amor, redescobrir que Teresa se encontrou com Deus em sua própria humanidade. Porque o "Livro da Vida" é um texto vivo, capaz de ainda transmitir vida e experiência: não só no estilo peculiar de Teresa, mas no testemunho profundo de um Deus que não deixa de amar, de se doar, de recriar as pessoas.
Um Deus que, na sua humanidade, enche de sentido a vida do homem, na narração de um Deus próximo e amigo, na narração de uma pessoa que redescobre e aceita a si mesma, na história de amor que porta o amor do outro, que não se fecha em si mesmo, mas se abre a toda a humanidade, porque em Deus descobre o verdadeiro sentido da sua vida e a dignidade infinita de todo ser humano. Quem quer descobrir a si mesmo, quem quer descobrir o Deus amigo, sempre encontrará nesse livro um guia atual, porque fala do desejo mais profundo de todo ser humano: descobrir o caminho da plenitude e da felicidade.