16/03/2009

12º Intereclesial das CEBs

O 12º Intereclesial das CEBs será realizado nos dias 21 a 25 de julho de 2009, com o tema “CEBs: Ecologia e Missão” e o lema “Do Ventre da Terra, o grito que vem da Amazônia”


A história das CEBs: Elementos de reflexão

1. Um pouco de história das CEBs no Brasil

1.1. Gênese das CEBs

a) Gestação

Houve a preparação do terreno para o aparecimento das CEBs por parte da ACO (Ação Católica Operária), com o MEB (Movimento de Educação de Base), com o Movimento do Mundo Melhor, com os Planos de Pastoral da CNBB.

b) Nascimento

Podemos localizar o nascimento das CEBs no final da década de 50 e início da década de 60. Eles pipocaram um pouco por todo o Brasil, no campo e na cidade.

c) Batismo

O batismo das CEBs se deu com Medellín (1968). Inicialmente eram chamadas de Comunidades Cristãs de Base: “Assim, a comunidade cristã de base é o primeiro e fundamental núcleo eclesial, que deve, em seu próprio nível, responsabilizar-se pela riqueza e expansão da fé, como também pelo culto que é sua expressão. É ela , portanto, célula inicial de estruturação eclesial e foco de evangelização e atualmente fator primordial de promoção humana e desenvolvimento” .

d) Confirmação

A confirmação se deu em Puebla (1979), mas antes as CEBs já haviam encontrado sua legitimidade na palavra do magistério universal na Evangelii Nuntiandi, 58:”...São solidárias com a vida da mesma Igreja e alimentadas pela sua doutrina e conservam-se unidas aos seus pastores”. O Documento de Puebla assim se expressa: “As comunidades eclesiais de base que em 1968 eram apenas uma experiência incipiente amadureceram e multiplicaram-se sobretudo em alguns países. Em comunhão com seus bispos e como o pedia Medellín, converteram-se em centros de evangelização e em motores de libertação e de desenvolvimento” .

e) Maturidade

A maturidade das CEBs pode ser compreendida em três momentos:

- O primeiro se dá com o Documento da CNBB (1982): “Fenômeno estritamente eclesial, as CEBs em nosso país nasceram no seio da Igreja-instituição e tornaram-se “um novo modo de ser Igreja”. Pode-se afirmar que é ao redor delas que se desenvolve, e se desenvolverá cada vez mais, no futuro, a ação pastoral e evangelizadora da Igreja” ;
- O segundo momento acontece com o VI Encontro Intereclesial das CEBs, em Trindade-Go (1986), onde se cunhou a expressão – CEBs: Um modo novo de toda a Igreja ser. Visa-se com tal expressão mostrar que o espírito das CEBs deveria fermentar toda a instituição eclesial a partir da opção pelos pobres;
- O terceiro momento pode ser compreendido a partir da feliz expressão de D.Pedro Casaldáliga – CEBs: O modo normal de toda a Igreja ser. Esta expressão quer significar que as questões fundamentais defendidas pelas CEBs devem ser assimiladas por toda a Igreja-instituição, pois fazem parte da defesa da vida. Por detrás desta vivência está presente a intuição do Vaticano II, sobretudo da Gaudium et Spes (nos.1.11)

1.2. Encontros Intereclesiais das CEBs no Brasil e fundamentos teológicos

Os Encontros Intereclesiais de CEBs mostram a caminhada das CEBs e seus temas mostram como elas se inserem na realidade da vida do povo. Revelam também a aquisição feita pelas Cebs, nestas últimas décadas.

1.2.1. Os temas dos encontros

I - 1975 – Vitória-ES - Uma Igreja que nasce do Povo pelo Espírito de Deus.
II - 1976 – Vitória-ES - Igreja, Povo que caminha.
III - 1978 – João Pessoa-PB - Igreja, Povo que se liberta.
IV - 1981 –Itaici-Indaiatuba-SP - Igreja, Povo oprimido que se organiza para a libertação.
V - 1983 – Canindé-CE - Igreja, Povo unido, semente de uma nova sociedade.
VI - 1986 – Trindade-GO - Cebs, Povo de Deus em busca da Terra Prometida
VII - 1989 – Duque de Caxias-RJ - Cebs, Povo de Deus na América Latina a caminho da libertação.
VIII - 1992 - Santa Maria RS - Cebs, Povo de Deus renascendo das culturas oprimidas.
IX - 1997 - São Luís-MA - Cebs, Vida e Esperança nas massas.
X - 2000 - Ilhéus-BA – Cebs, Povo de Deus, 2000 anos de caminhada.
XI – 2005 – Ipatinga-MG – Cebs, espiritualidade libertadora: Seguir Jesus
no compromisso com os excluídos (em preparação).

1.2.2. Elementos teológicos do Povo de Deus

. Consciência de ser Povo e Povo de Deus

A consciência de ser povo e de formar uma comunidade parece estar na base da vivência das Cebs, bem na perspectiva do Vaticano II: "Aprouve a Deus santificar e salvar os seres humanos não singularmente, sem nenhuma conexão uns com os outros, mas constituí-los num povo, que o conhecesse na verdade e santamente o servisse" (L.G.,9,24; cf. 9,26). A dimensão da fé comunitária e a salvação na perspectiva coletiva estão presentes na caminhada das Cebs. Os nomes e os escritos do Novo Testamento são comunitários. "A comunidade eclesial é a matriz da fé do cristão/ã" .

. Consciência de ter uma história

Povo que caminha sabe que conta com a história. Tem uma raiz. Articula-se com uma tradição (Bíblia: leitura orante e comprometida): No êxodo, constitui-se como povo, que tem consciência de sua origem nos Patriarcas, em Adão e Eva e encontra-se em Deus como origem da vida e do mundo. Vê em Jesus a dinâmica de toda a história e o relançador do Projeto de Deus no Projeto do Reino, com carinho especial - opção pelos pobres (Lc.4,14-30; Mt.11,2-6. 25-26; Lc.7,18-23). Em Medellín, essa opção pelos pobres assume toda sua dimensão teológica (A opção pelos pobres é uma opção teocêntrica). Hoje essa opção pelos pobres parece sofrer, por parte da Igreja-instituição um certo ocultamento, como acontece no Documento Ecclesia in America, onde a questão dos pobres fica ofuscada por outras prioridades.

. Consciência de ser Povo Portador de uma Mensagem de libertação-salvação

A mensagem fundamental é o Evangelho de Jesus, o carpinteiro da Galiléia. Por isso, a missão fundamental do Povo de Deus é a de Evangelizar. A missão da Igreja é Evangelizar. Por isso ela se torna sacramento ou sinal e instrumento da união dos seres humanos com Deus. Hoje, por vários motivos, sobretudo por causa de suas opções não tão evangélicas, parece que estamos vivendo um inverno na Igreja! Entretanto, por ter consciência de ser a portadora desse Evangelho, o Povo de Deus (Igreja) compreende-se como povo messiânico (LG.,9) e missionário (L.G.9,26). A mensagem da salvação-libertação deve atingir todas as dimensões da vida humana: econômica, política, cultural, pedagógica, erótica-sexual, litúrgica e também ecológica (libertação da natureza - cf. Rm.8,18-25). A Igreja, Povo de Deus, tem em primeiro lugar uma referência a Jesus e seu Evangelho; em segundo lugar, à comunidade dos santos - comunidade santificante e, finalmente, como comunidade institucional visível . Ela é Igreja de Deus e Povo de Deus.

. Consciência de ser um corpo organizado: organicidade e diversidade do Povo de Deus

As Cebs descobrem o valor da comunhão nas diferenças e vão concretizando através da ministerialidade do Povo de Deus o sacerdócio comum dos fiéis (LG., 10). Há novas práticas que apontam para um novo horizonte de compreensão da participação dos fiéis na Igreja. A Igreja é Povo de Deus que busca uma convivência que se expressa também nos serviços, nos movimentos, nas estruturas de articulação e no catolicismo popular .

. Consciência do serviço-solidariedade universal (humana e cósmica)

A descoberta da solidariedade, da compaixão, da misericórdia faz parte integrante da caminhada das Cebs. A afirmação de ser semente de uma nova sociedade (1986) quer indicar o "papel protagônico no Projeto-processo mais amplo de uma Igreja dos Pobres" e que contribui para a construção de novas relações sociais entre as pessoas e os diferentes grupos humanos, para a construção de uma sociedade mais equilibrada, fraterna e solidária, onde acontecem as antecipações do Reino. O importante é o espírito, a referência inspiracional e não uma forma ou uma estrutura específica. Há "um tecido novo com práticas novas" .Um novo modo de ser.

A experiência das Cebs reencontra a prática de Jesus e seu sonho: reconstruir uma Igreja da misericórdia, que faz descer da cruz os povos crucificados e que se torna co-responsável na construção de uma solidariedade universal sobretudo com os pobres e excluídos .

Redescobre-se, na prática das Cebs, a dimensão profética: luta pela justiça e entrega da vida pelas vidas na doação de nossos mártires que reeditam o martírio de Jesus. Também essa dimensão tem sido ocultada nos últimos pronunciamentos oficiais. Faz parte do inverno da Igreja. No entanto, as Cebs retomam a memória perigosa e continuam celebrando a vida dos mártires: ladainhas, caminhadas, romarias...

As Cebs estão também se despertando para o grande sonho-desejo expresso por Jesus: "Que todos sejam um"! A dimensão ecumênica que despontou no encontro de Duque de Caxias (1989), vem dando seus frutos. A abertura ecumênica e macro-ecumênica tem sido, na América Latina, fruto nascido do serviço comum à missão libertadora (ecumenismo e diálogo religioso práxicos). Essa dimensão abre o caminho para o reconhecimento da alteridade e a beleza das diferenças (negros, índios, migrantes, mulheres, jovens, crianças), exigindo nova reflexão sobre as questões étnicas, de gênero e de geração, sem desprezar a questão básica das relações de classe. Estamos num novo momento de aprendizagem, onde a nova hospitalidade exige hospedar os outros dentro de nós . O respeito pela alteridade aponta para o desafio da inculturação libertadora e a construção de um projeto de Igreja ecumênico, aberto às diferenças e ao diálogo num mundo plural e que tenha os pobres como seu referencial básico.

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