13/03/2009

Dom Sérgio da Rocha

Tempo de Fraternidade

A palavra fraternidade tem sido bastante usada entre nós. Contudo, nem sempre as pessoas têm consciência clara do seu significado cristão. Na raiz da palavra encontra-se o termo latino "frater", que significa "irmão". Por isso, quando falamos em fraternidade, estamos nos referindo a ser irmão, a fazer-se irmão, a reconhecer a outra pessoa como irmão/irmã.

Acolher a fraternidade como valor ético implica em criar relacionamentos fraternos, em acolhida respeitosa e afetuosa, excluindo-se tudo o que destrói a vida, a dignidade e os direitos das pessoas. Quando nos referimos a "irmãos", certamente, incluímos a filiação comum daqueles e daquelas que assim são chamados.

Na fé cristã, cremos na filiação divina: somos filhos e filhas do mesmo Pai, que é Deus. Jesus Cristo revelou o rosto misericordioso do Pai, chamando-o carinhosamente de Abba, linguagem utilizada pela criança que abraçava o próprio pai com ternura e confiança.

Por isso, o rosto materno de Deus tem sido destacado por místicos, teólogos e papas, como João Paulo I. O rosto de Deus Pai não pode ser definido segundo os parâmetros da cultura patriarcal ou machista, mas segundo a revelação que se encontra em Jesus Cristo. Por que essa questão adquire tamanha relevância? Porque para se viver de modo cristão a fraternidade, é preciso ter presente a filiação divina.

Somos irmãos e irmãs porque filhos e filhas do mesmo Pai. Assim como numa família, nascemos irmãos, a partir do mesmo pai ou mãe, na grande família dos filhos e filhas de Deus, não se pode escolher quem é irmão, isto é, aceitar um como irmão e rejeitar outro. Pode se escolher amigos; irmãos, não; especialmente, quando a fraternidade tem seu sentido mais profundo em Deus.

É preciso reconhecer e acolher o outro como irmão, independente de gosto ou simpatia. Assim, a fraternidade torna-se caminho onde a justiça e a paz florescerão. O mundo se torna o jardim querido por Deus quando nos abrimos à vida fraterna.

Entretanto, vivemos numa sociedade marcada por muitas situações em que a fraternidade tem sido negada. Por isso, somos chamados a construir a fraternidade, a fazer valer a nossa condição de irmãos. É importante começar a viver a fraternidade nos círculos mais próximos: na família, na escola, no ambiente de trabalho, na comunidade.

Nestes ambientes, podemos fazer de modo privilegiado a experiência de aceitar e reconhecer os que convivem conosco como irmãos a ser respeitados e amados, com igual dignidade. É preciso, porém, ultrapassar os círculos mais próximos de convivência ou amizade. Graças a Deus, temos verificado belos gestos fraternos como o socorrer alguém que nem se conhece, emocionar-se com o sofrimento de alguém distante, ser solidário com quem é vítima de injustiças ou tragédias, mesmo sem saber o seu nome.

A vida fraterna se faz de proximidade afetuosa, gratuidade e generosidade.

Contudo, a fraternidade não depende apenas de gestos de boa vontade, em nível pessoal ou familiar. Há resistências e desafios que precisam ser superados para que a fraternidade se torne realidade no cotidiano, mas também, na vida social.

Há campos ou situações em que a fraternidade precisa acontecer que envolvem instituições e estruturas sociais. Por isso, a cada ano, a Campanha da Fraternidade contempla um aspecto da realidade social brasileira, iluminando-o com a Palavra de Deus e estimulando a vivência da fraternidade, através da participação responsável dos cristãos na vida social.

O tema desafiador deste ano, "Fraternidade e Segurança Pública", quer contribuir para a promoção da justiça social e da paz. Por isso, é acompanhado do lema "A paz é fruto da justiça". Assumir e viver a "fraternidade", com o seu rico significado cristão, representa uma contribuição preciosa na construção da justiça, da segurança e da paz.

Fonte: Arquidiocese de Teresina