12/06/2009

Dom Dominique You

‘Na Amazônia, denunciar a exploração sexual representa um perigo de vida'

Dominique You, bispo da diocese de Conceição do Araguaia, no Pará, que está na região amazônica desde 2002, deplora os numerosos abusos sexuais de que são vítimas os jovens desta região de migrações. A entrevista foi concedida a Claire Lesegretain e está publicada no jornal francês La Croix, 08-06-2009. A tradução é do Cepat.
Fonte: UNISINOS


Qual é a situação de sua diocese?


A diocese abrange uma área de 52.000 km2, ao sul do Estado do Pará, em uma região completamente desmatada. Para atender as nossas 10 paróquias, nós dispomos apenas de cinco padres diocesanos e 15 religiosos; destes 20 padres, 10 são estrangeiros. Até o momento, as terras eram destinadas sobretudo à pecuária, mas as companhias de minério (norte-americanas, australianas, mas também japonesas e chinesas) começam a se instalar para a extração de ferro, níquel, manganês e ouro.

Por causa da crise, esta atividade mineradora parou, mas logo ela será retomada. Eu procuro ajudar os jovens da região a se formar para conseguirem empregos nessas companhias estrangeiras. Porque as condições de vida aqui são muito duras. Eu propus a duas Congregações de ensino italianas para virem a Conceição e abrir um centro de aprendizagem profissional para rapazes.

Como você pretende financiar esse centro?

Nós não temos dinheiro. Com 10 paróquias pobres, a diocese é incapaz de se financiar... Eu não consigo nem pagar a formação dos meus 10 seminaristas em Belém (a 1.500 km de Conceição)! Eu solicitei às dioceses ricas do sul do país a possibilidade de financiarem três deles. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) ajuda as 12 dioceses da Amazônia. Eu também gostaria de criar um centro para as equipes do movimento “Evangelização da Vida e do Amor” (Eva).

Assim como fiz na Bahia como padre de uma paróquia popular (1994-2002), depois como bispo auxiliar (2002-2006), eu criei equipes Eva semelhantes em Conceição. Dez jovens casais voluntários são formados pela diocese durante três meses, depois visitam toda a diocese durante cinco meses; em seguida, durante cinco meses, eles vão às escolas públicas e ao encontro dos jovens dos bairros pobres. Em 2008, essas equipes se reuniram com 30.000 jovens; em 2009, deverão chegar a 50.000.

O objetivo dessas equipes de evangelização é ajudar os adolescentes a descobrir a beleza e a dignidade da sexualidade e a se defender melhor contra aqueles que tentam abusar deles. Porque, além do problema dos sem terra, uma das “feridas” mais graves na Amazônia é a exploração sexual, especialmente dos adolescentes, moças e rapazes, que sofrem de abusos em sua família, mas também por professores, vereadores ou policiais.

Como explicar isso?

Desde a reforma agrária de 1970 – quando a Amazônia foi declarada “terra sem homens e homens sem terra” –, centenas de milhares de colonos desenraizados vieram para cá. Como frequentemente acontece em regiões de migração, a fragilidade das estruturas familiares e sociais deixa os mais jovens desprotegidos. No Brasil, há uma carência na transmissão dos valores humanos aos jovens.

Nós fizemos 10 audiovisuais. O primeiro é mostrado nas primeiras visitas das equipes Eva e fala da beleza da vida antes do nascimento. O segundo, que evoca explicitamente uma situação de exploração sexual, é utilizado como provocação para os adolescentes: um de cada três jovens foi ou se encontra nessa situação. Em seguida, propomos aos jovens conversas individuais, realizadas por seminaristas ou leigos formados para a escuta.

Ainda não podemos avaliar o resultado dessas missões escolares, mas elas são muito solicitadas pelas escolas públicas. Mais que a questão da terra, esta questão da exploração sexual provoca hoje as maiores tensões na Amazônia. Denunciar a exploração representa um perigo de vida.

É o seu caso?

Não, porque a minha ação ainda não é conhecida... Mas três dos doze bispos do Pará estão ameaçados de morte por esta razão. São eles: dom Erwin Krautler (Xingu), ameaçado também por sua luta pelos direitos das minorias indígenas, dom Flavio Giovenale (Abaetetuba), que sabe que sua vida corre perigo desde que denunciou o caso de uma menor de 15 anos que estava presa com homens adultos e odiosamente abusada por eles. Quanto a dom José Luis Azcona (Prelazia do Marajó), ele está sendo ameaçado desde que denunciou a exploração sexual pelas autoridades locais.