08/09/2009

29º Congresso de Teologia

Urge uma mudança de rumo na política econômica que beneficia os poderosos


“No processo das reflexões abertas no Congresso evidenciou-se a necessidade de construir uma nova ordem mundial – política, econômica, jurídica – alternativa ao neoliberalismo, baseada na cooperação, na solidariedade e capaz de implementar controles efetivos no atual sistema financeiro para evitar os abusos produzidos sistematicamente.” O compromisso faz parte da carta-resumo do 29º Congresso de Teologia, realizado na Espanha, e que está publicada no sítio Religión Digital, 6-09-2009. A tradução é do Cepat.
Fonte: UNISINOS


De 3 a 6 de setembro de 2009, sensibilizados com a situação de crise que estamos atravessando, realizou-se em Madri o 29º Congresso de Teologia com o lema O Cristianismo diante da crise econômica. Como resumo das discussões havidas no Congresso, destacamos o seguinte:

1. O choque sofrido pelo chamado Primeiro Mundo, cujos efeitos se alastraram imediatamente para o mundo inteiro, em consequência da crise econômica de 2008 e 2009, comparável apenas com o histórico crack ou “grande depressão” dos anos 1930, está destroçando o Estado de Bem-estar alcançado nas últimas décadas por um pequeno número de países privilegiados, mergulhando o resto do mundo em um caos de efeitos incalculáveis. Estes fatos supõem uma prova de fogo não somente para os dirigentes mundiais, mas também para as consciências de muitos cristãos, ao questionar seu nível de solidariedade comprometida.

2. Uma situação como esta deve ser contemplada não apenas desde uma perspectiva econômica, mas de um ponto de vista sociológico e, sobretudo, com uma profunda sensibilidade cristã. Trata-se de uma realidade de injustiça econômica excludente dos mais necessitados e vulneráveis da sociedade, que já havia entre nós antes de 2008 e que explodiu agora, evidenciando a fragilidade de uma sociedade na qual foram minados os valores cristãos pelo enriquecimento fácil e a ostentação sem limites, que dão origem a um estado de injustiça que fez com que os índices de desigualdade e de pobreza não somente não se tenham reduzido nos anos de prosperidade e desenvolvimento social, como se mantiveram constantes ao longo de todo este período.

3. Nestes tempos invernais em que não apenas a economia e a política, mas também a fé e a ética estão em crise, é hora de se solidarizar com os grupos mais frágeis da humanidade e recuperar alguns valores cristãos, como a opção preferencial pelos pobres, assim como a identificação com os mártires da terra, dando respostas tanto às demandas do Terceiro Mundo como aos bolsões de pobreza do Quarto Mundo, estabelecendo assim pontes de comunicação a partir de uma sensibilidade genuinamente cristã.

4. Mesmo que consideremos o sistema capitalista como o responsável pela crise, que permite que poucos se enriqueçam às custas do empobrecimento das maiorias populares, denunciamos a apatia e a falta de compromisso social das confissões religiosas, que se preocupam mais com questões relativas ao poder e em continuar defendendo situações de privilégio no campo econômico e social do que em denunciar as injustiças de um sistema que tortura os setores mais necessitados. Por este motivo, entendemos que devem ser ativadas as melhores tradições de justiça, igualdade e solidariedade de todas as religiões e movimentos espirituais através de iniciativas comuns que ajudem, desde colocações éticas responsáveis, a introduzir uma mudança radical no comportamento social.

5. No processo das reflexões abertas no Congresso evidenciou-se a necessidade de construir uma nova ordem mundial – política, econômica, jurídica – alternativa ao neoliberalismo, baseada na cooperação, na solidariedade e capaz de implementar controles efetivos no atual sistema financeiro para evitar os abusos produzidos sistematicamente. E, a nível nacional, que urge uma mudança de rumo da política econômica que beneficia os poderosos e a implantação de políticas fiscais e sociais favoráveis aos setores mais desfavorecidos.

6. No campo pessoal, como cidadãos e crentes, temos que nos deixar interpelar pela atual crise e assumir compromissos concretos nos diversos níveis em que nos movemos, renunciando ao consumo irracional e não solidário, vivendo com austeridade, solidarizando-nos de maneira efetiva com as vítimas da crise, trabalhando pela justiça e lutando contra a discriminação em todas as suas formas e manifestações étnicas, raciais, sexistas, sociais e culturais.

7. Como participantes do Congresso de Teologia, e como expressão da nossa identidade cristã, fazemos nosso o sofrimento de uma humanidade sofrida, em especial dos setores excluídos do mercado de trabalho, despossuídos de todo tipo de direitos sociais e clamamos pelo estabelecimento de uma sociedade mais justa e equilibrada, na qual se deixe ouvir a voz e o pranto dos mais pobres dentre os pobres, os que foram jogados fora do mercado de trabalho, tendo sido privados de seu sustento e de sua dignidade.