10/09/2009

Frei Gilvander Moreira

15º Grito dos Excluídos em Belo Horizonte

Frei Gilvander Moreira é Mestre em Exegese Bíblica, professor de teologia Bíblica, assessor de CEBs, CEBI, CPT, SAB e MST
Fonte: Adital


Com o tema "VIDA EM PRIMEIRO LUGAR" e com o lema "A força da transformação está na organização popular" aconteceu a 15ª edição do Grito dos Excluídos em Belo Horizonte, dia 07 de setembro de 2009. A concentração foi na Praça da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Pouco-a-pouco foram chegando de todos os cantos e recantos da capital mineira cidadãos/ãs integrantes de Pastorais Sociais, da Igreja Povo de Deus, de Movimentos Populares e sociais, povo excluído. Éramos mais de 2.500 pessoas.

Após todos se cumprimentarem, se acolher mutuamente, com uma boa animação, começou a marcha bem organizada que foi até à Praça Sete, no Centro de Belo Horizonte.

A primeira parada foi ao lado do Banco Central, onde uma enorme faixa preta foi estendida e os clamores dos excluídos escritos. Foram proferidas palavras de ordem contra a Política econômica neoliberal de FHC e Lula, que nos últimos 15 anos vem repassando para os banqueiros (credores da dívida pública) cerca de 250 bilhões de reais por ano, dinheiro que daria para fazer uma revolução na saúde, na educação, na Reforma Agrária, nas áreas sociais.

A segunda parada foi em frente ao Mercado Municipal, ponto tradicional de BH, e chamamos a todos para entrarem na luta contra os transgênicos, por uma alimentação saudável. Militantes carregando grandes peneiras circularam no meio dos freqüentadores do mercado.

Atrás do caminhão de som, o povo cantando e, gritando palavras de ordem marchou até à Praça Sete, onde foram enumerados os gritos dos excluídos e cantada a "Internacional socialista", antes do Hino Nacional.

A Marcha Mundial das Mulheres ergueu a bandeira dos direitos das mulheres: "Basta de machismo, patriarcalismo e violência contra a mulher!"

Os idosos clamaram pelo direito a uma justa aposentadoria, por respeito e por vida digna.
Os homossexuais e as lésbicas levantaram a bandeira do respeito à opção sexual e contra a discriminação homofóbica.

O povo das CEBs - Comunidades Eclesiais de Base - igreja Povo de Deus, que faz opção pelos Pobres também participou, sinal de que o Deus da vida ouve os Gritos dos Excluídos e caminha com o povo em lutas libertárias.

Cerca de 140 mil mulheres da Pastoral da Criança estão no Brasil salvando milhares de crianças.

O povo lutador do Bairro Camargos não descansará, enquanto a empresa SERQUIP não sair definitivamente do bairro. Sem licença de Operação e sem autorização judicial, a empresa continua no local. A SERQUIP, empresa que incinera lixo hospitalar e tóxico, já causou a morte de várias pessoas por doenças como o câncer. Muita gente que reside próximo à incineração está com a saúde avariada por causa da nuvem de dioxina que exala das chaminés da SERQUIP. Por lei essa atividade é vedada em bairro residencial.

Um grupo de Sem Terra do MST ergueu a bandeira da Reforma Agrária. Cobraram do Lula a atualização dos Índices de Produtividade, pois os existentes são de 1975. Estão defasados há 34 anos. "Não ao agronegócio que dissemina monoculturas de cana, soja, eucalipto pelo território brasileiro, deixando atrás de si um rastro de devastação ambiental. Sim à agricultura familiar com adubação orgânica na linha da agroecologia", gritavam os Sem Terra.

As Ocupações Camilo Torres e Dandara marcaram presença. Seguem, de cabeça erguida, conquistando moradia popular na luta. Comunicaram a todos que o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, dia 21/08/2009, enviou à Câmara Municipal o Projeto de Lei 728/09, que, caso seja aprovado pela Câmara, autorizará o Executivo Municipal a doar áreas de propriedade do município e a realizar aporte financeiro para o Programa "Minha Casa Minha Vida" e isentar de tributos empreiteiras que estiverem no Programa "Minha Casa Minha Vida".

O art. 13 do PL 728/09 diz: "As famílias que invadirem áreas de propriedade pública ou privada a partir da data de publicação desta Lei não serão contempladas pela mesma." Foi denunciado a inconstitucionalidade, a truculência, a imoralidade e o absurdo desse art. 13. O prefeito quer defender direito à propriedade absoluta, o que é vetado pela Constituição Federal. Quer impedir o direito à luta organizada; também quer aplicar o código penal, pois quer impor PENA a quem "invadir".

Na Mensagem n. 19 à Câmara Municipal, apresentando o PL 728/09, o prefeito diz, entre tantas considerações: "Cabe destacar que o déficit habitacional de Belo Horizonte é de mais de cinqüenta e três mil famílias (segundo dados da Fundação João Pinheiro), e que, em recente data, o Executivo realizou a caracterização de demanda através de inscrição de interessados ao Programa ("Minha Casa Minha Vida"), resultando num total de mais duzentos mil inscritos."

Centenas de jovens do PRO-JOVEM cobraram direito à educação de qualidade.

Um grupo recolheu assinaturas de eleitores para o Projeto de Lei de Iniciativa Popular "FICHA LIMPA" que visa impedir legalmente que alguém que esteja processado na justiça e com julgamento em Segunda Instância se candidate a um cargo político.

Que a indignação diante da truculência da Polícia e da opressão capitalista nos faça mais comprometidos na luta pela construção de uma sociedade justa e solidária.

A polícia militar de MG, de forma truculenta, sem nenhuma necessidade, quase no final do Grito dos Excluídos, prendeu dois trabalhadores que se manifestavam: um da Ocupação Camilo Torres e outro do PRO-JOVEM, um carpinteiro de 25 anos, há 9 anos trabalhando na mesma firma, pai de uma criança de 4 meses, estudante do PRO-JOVEM. Após ser derrubado por policiais e algemado com as mãos para trás, foi levado à delegacia onde ficou preso por cerca de 5 horas, algemado. Motivo da prisão: Quando o povo ocupou a Av. Amazonas para terminar o Grito, um policial em uma motocicleta chegou e gritava de forma desrespeitosa ameaçando passar por cima do povo se não abrissem o espaço. Um dos jovens tirou uma fotografia do policial, que se irritou e o algemou sob os olhares do povo. O outro disse: "Temos direito de manifestar. Por isso não vamos sair daqui. Se quiser, passe por cima de nós." Foi o suficiente para o grupo de policiais militares de forma truculenta prender os dois.

Na região metropolitana de Belo Horizonte, em Ribeirão das Neves e em Betim também aconteceram Grito dos Excluídos. Em Neves o povo denunciou governo de Minas que firmou convênio com 5 empresas, para a construção e administração de um complexo penitenciário para 3.041 encarcerados pelo prazo de 27 anos, através de PPP’s. O governo pagará R$2.100,00 (dois mil e cem reais) por mês, por preso. Obviamente, o povo pagará essa conta. Preso não é mercadoria, cadeia não é negócio. Privatizar a execução penal além de inconstitucional não resolve a questão em si; a questão social não é e nem pode ser considerada "caso de polícia". A privatização dos presídios é uma proposta fracassada no mundo inteiro, como comprova a experiência estadunidense, onde há 3.100.000 encarcerados e outros 5 milhões cumprindo penas alternativas, maior reincidência e precarização das condições de encarceramento diante da necessidade de diminuir custos para ampliar lucratividade.

P.S.: Milagre... Segue a matéria da TV Globo fez sobre o Grito dos excluídos em Belo Horizonte. 08/09/2009. Clique no link abaixo e assista à reportagem:
http://globominas.globo.com/GloboMinas/Noticias/MGTV/0,,MUL1295141-9033-16339,00.html

Organização do Grito dos Excluídos em BH, em 07/09/2009:
Pastorais Sociais, CEBs, CONIC, Fórum Interreligioso, Maristas, MTC, AMES-BH, Assembleias Populares, Brigadas Populares, Comitê Mineiro do Fórum Social Mundial, CONLUTAS, Grupo Univ. Defesa Div. Sexual, Marcha Mundial das Mulheres, Movimento de Lutas de Vilas e Favelas, Movimento dos Sem Universidade, Sindicato dos Economistas, Sindicato dos Jornalistas, PCB, PSTU, PSOL, PCR...