14/09/2009

Fernando Lugo causou uma grande dor à Igreja católica

O representante do Papa Bento XVI no Paraguai, Dom Orlando Antonini, assegurou hoje que o caso de Fernando Lugo causou uma grande dor à Igreja católica. Ele se referia à decisão do presidente de abandonar sua qualidade de bispo para se dedicar à atividade política. No entanto, Antonini assegurou que esse fato não altera as relações entre a Santa Sé e o país. O núncio apostólico do Vaticano, Orlando Antonini, se despediu nesta sexta-feira do presidente paraguaio Fernando Lugo. O presidente abandonou sua condição de sacerdote para se dedicar à política. O Vaticano sancionou-lhe com uma suspensão. Lugo foi bispo de San Pedro por muitos anos. A reportagem é do sítio Periodista Digital, 11-09-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: UNISINOS

Antonini manifestou que o caso do ex-bispo Lugo causou uma grande dor para a Igreja católica. Indicou que o fato repercute em toda a instituição eclesial. "Espero que os paraguaios reconheçam esse sofriemnto da Igreja, esse sacrifício que a Igreja fez, que isso seja valorizado", afirmou o representante do Vaticano na sede do Palácio de Governo.

O bispo indicou que, nesta sexta-feira, se despediu do presidente ao término de sua missão no Paraguai. Antonini assegurou que disse a Lugo que seu caso não alterou as relações entre o Paraguai e o Vaticano. Assinalou que o processo que culminou com uma "suspensão a divinis" foi uma experiência muito difícil para a Igreja.

"A Igreja ficou em um estado ruim e precisará de anos para digerir o que aconteceu. Mas isso vai ser superado. Tenho a confiança de que o processo iniciado no Paraguai, essa evolução democrática, irá continuar", disse posteriormente.

Ele indicou que a Igreja também considera como parte do problema o caso de paternidade reconhecido por Fernando Lugo, que concebeu um filho com Viviana Carrillo quando ainda era sacerdote. Existe outro caso de paternidade, pedido por Benigna Leguizamón, que está tramitando nos estratos judiciais. Uma terceira mulher também denunciou ter tido um filho com o presidente, mas não iniciou um processo na justiça.

Também foi perguntado a Antonini como ele vê o fato de que os bispos paraguaios aproveitem sua posição na Igreja para fazer política. Não foram mencionados nomes. O núncio disse: "Há muito tempo destacamos a necessidade de equilibrar nossa intervenção. Os bispos e sacerdotes devem atuar no social e no político com a dimensão espiritual".

O bispo disse que é preciso que os religiosos ponham Cristo em primeiro lugar. Assegurou que é preciso lidar com a questão dos pobres a partir da "luz de Deus".

"Se não fizermos assim, se não vermos o problema social à luz do Espírito de Deus, há o risco de que o pobre seja explorado, de que seja utilizado como pretexto para programas partidários ou de outro tipo", acrescentou.

Orlando Antonini indicou que a situação do ex-bispo Fernando Lugo se converteu em um caso institucional para a Igreja quando se tornou presidente, quando venceu as eleições gerais ocorridas no dia 20 de abril do ano passado.

"Nós reconhecemos a vontade do povo. Não há dificuldades nisso. É o presidente", assumiu.

No entanto, indicou que, a seu ver, um problema como o gerado por Fernando Lugo não pode passar despercebido. Ele lembrou que a Igreja tentou impedir que ele deixasse sua qualidade de eclesiástico, mas não conseguiu.

Para ler mais:


Uma observação:
Penso que o caso do presidente Lugo não deveria causar tamanha dor à Igreja Católica. As questões referentes ao presidente paraguaio deveriam ser melhor enfrentadas pela Igreja que poderia aproveitar o momento para repensar, entre outros desafios, o do celibato. A atuação de sacerdotes e bispos no social e no político apenas com a dimensão espiritual, desejada pelo Núncio, precisa ser melhor explicada para ser também melhor compreendida pelo clero e leigos/as, uma vez que a atuações dos políticos têm consequências concretas - e nefastas, em sua maioria - na sociedade. Penso ainda que a Igreja Católica deveria sentir tamanha dor, inclusive de forma mais evidente e concreta, diante dos crimes cometidos, por exemplo, pelo Pe. Marcial Maciel, o fundador dos Legionários de Cristo. Causa-me profunda perplexidade, e dor, bispos esconderem determinados crimes cujos autores deveriam ter sido , à época, exemplarmente punidos.
Enoisa Veras