29/12/2008

Dom Luciano Pacomio

“Pode-se discordar de como a União Européia formulou a moção sobre a homossexualidade, mas ser gay não poder mais ser crime”. Dom Luciano Pacomio, bispo de Mondovì, na Itália, e membro da Conferência Episcopal Italiana para a Doutrina da Fé e a Catequese, continuará sua “pastoral” dos homossexuais. A reportagem é de Giacomo Galeazzi, do jornal La Stampa, 02-12-2008. A tradução é de Moisés Sbardelotto. Fonte: UNISINOS

O que o senhor irá dizer aos seus fiéis homossexuais?

Uma coisa são as enunciações de princípio mais ou menos equivocadas, uma outra é o caminho de compartilhar com as pessoas em carne e ossos. Eu não devo pedir a orientação sexual de quem tenho na minha frente, são eles que devem dizê-lo a mim quando se sintam incômodos e queriam entender o pensamento de Jesus e as resoluções da Igreja. A vida é uma oscilação de alegrias e tristezas para todos. Dar sentido ao sofrimento atinge a sexualidade de qualquer um, heteros ou gays têm a mesma exigência de aprender a ser pessoas que sabem amar. As pessoas não devem ser culpadas. Cada um deve viver a sua orientação de itinerários pessoais, experiências ou condições individuais e merece respeito e atenção. Para mim, é centrar dar-lhes uma mão para a vivência de sua condição. Os gays são meus fiéis assim como os outros.

Teme repercussões por causa das palavras de dom Migliore?

As tomadas de posição oficiais sempre têm a necessidade de ser claras e peremptórias para não serem equivocadas. Manter a própria identidade gay ou iniciar um percurso existencial de verificação é uma escolha pessoal. Eu tento pedir uma grande confiança em Deus. São Paulo dizia que “já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre”. Assim, eu acrescento: “não há mais homossexual ou heterossexual” na identificação profunda da relação com Deus. Fazer o bem aos outros é a estrada mestra para qualquer um. Não é que os heterossexuais não vivam a fragilidade. Fidelidade e castidade são valores que valem para todos. O importante é a serenidade, a alegria, o viver sem levar a existência como um jogo. Dizer que a via comum é a relação homem-mulher não deve ostracizar todos os outros caminhos. Devem ser considerados os casos singulares, não agredindo, não condenando a priori, mas esclarecendo que podem existir diversidades. E eu ajudo a entender como atuar e viver essas diversidades com misericórdia.

Como o senhor se relaciona com os gays?

Às vezes, me perguntam: “O senhor quer que todos os gays se tornem heterossexuais?”. Eu respondo: “Não, eu quero que todos os gays vivam uma vida digna, feliz e colocando na balança não apenas a sua orientação, mas também a relação com Deus”. A minha ajuda é a ver como viver melhor no bem aquilo que experimentam. Não fecho a porta a ninguém. Uma coisa é o fundamento da lei divina, da Sagrada Escritura e do magistério, outra é o caminho para chegar a observá-lo. A catequese dos homossexuais vai ao encontro das exigências reais. Devemos estar atentos às palavras que parecem uma discriminação dos gays. Não é o caso de entrar muito no aspecto legislativo em escala nacional e internacional. Tudo o que respeita a liberdade, que não faz mal à decisão dos outros, deve ser guardada e avaliada em uma chave global.

Melhor não se prestar a instrumentalizações?

Exato. Concretamente, me interessa dar motivos às pessoas para observar os preceitos da Igreja e para apreciar as tentativas de caminhar na estrada da consciência madura. Ao invés das reações e das declarações fortes, produzem mais efeito o caminho junto às pessoas e o empenho concreto para dar a elas motivos de fazer escolhas fortes e construtivas.