21/10/2009

Pe. Manfredo A. de Oliveira

A urgência de novo padrão civilizatório
Fonte: Paróquia de Santo Afonso/Fortaleza-CE




O presidente do IPEA, o economista Márcio Porchmann, tem insistindo em seus diversos pronunciamentos através do Brasil na urgência de pensar em novas bases um projeto de desenvolvimento para a o país. Sua tese de base é que vivemos hoje uma situação profundamente diferente da que serviu de referência para os projetos de desenvolvimento pensados até agora. Na realidade se tratou para nós no passado de passar de uma sociedade rural para uma sociedade urbano-industrial o que implicava que o eixo do projeto fosse o processo de industrialização.

Hoje estamos passando de uma sociedade industrial para uma sociedade pós-industrial. Alguns fatos importantes nos ajudam a compreender o que está em jogo. Atualmente no Brasil, de cada dez empregos gerados, sete a oito são empregos no setor dos serviços e a forma do exercício do trabalho neste setor é profundamente diferente do trabalho na indústria e na agricultura. Fundamental neste contexto é que esta forma de trabalho está vinculada a novas formas de gestão que estão produzindo uma enorme intensificação do trabalho que faz com que se trabalhe cada vez mais e fora do local de trabalho.

A novidade aqui é a produtividade imaterial no sentido de que se trata de um trabalho não materializado, não tangível, com base cada vez mais forte no conhecimento e cujo salário é reajustado de acordo com a meta da produção e das metas de venda. A impressão que se passa ao trabalhador é que ele é uma espécie de sócio do empreendimento uma vez que seu salário depende da evolução do faturamento. Esta produtividade imaterial está gerando grandes parcelas de riqueza que não está sendo discutida, contabilizada e muito menos repassada para os salários o que significa dizer que estamos vivendo uma fase do capitalismo de gigantesco aumento da concentração de riqueza, marcada por um processo de fusão que não vai permitir a existência de mais de quinhentas grandes corporações transnacionais capazes de dominar qualquer setor da atividade econômica. Estamos num mundo em que fica claro que o que realmente importa não são as pessoas, nem os países, mas as grandes corporações. Nesse novo contexto, as instituições criadas no pós-guerra para administrar países simplesmente não servem mais. No entanto, aqui está para ele o grande desafio de nosso tempo: esta nova forma de constituição da sociedade pós-industrial, sociedade de serviços e de conhecimento, está gerando um ganho de produtividade que permite construir um novo padrão civilizatório.

No entanto, o Brasil está com muita dificuldade para passar para este novo estágio de desenvolvimento porque ainda não realizou tarefas que foram indispensáveis nos países que se modernizaram. O sinal mais claro disto é o Brasil não ter realizado as reformas básicas que foram fundamentais para a consolidação de uma sociedade industrial entre as quais a reforma agrária e, sobretudo, a reforma tributária. Na realidade, diz ele, os ricos vivem aqui muito melhor que a classe média e os ricos nos Estados Unidos e na Europa porque aqui eles não pagam impostos. E lá não existe essa massa de serviçais. No Brasil, as famílias de classe média e ricas têm, em média, 13 serviçais à sua disposição para prestar serviços, mais de 20 milhões de pessoas, um exército com remuneração extremamente baixa. Por que é possível ir para a churrascaria no Brasil e comer bem pagando preços módicos? Porque os que lá trabalham, têm remunerações extremamente baixas. O que chama atenção é que viabilizar e internalizar esse padrão de consumo só é possível com um sistema tributário que concentra renda, que tira dos pobres e dá para os ricos e com um Estado que se organizou para atender fundamentalmente os ricos, o andar de cima da sociedade. Esse andar de cima tem tudo. Tem banco público, tem sistema de tecnologia, tem compras públicas, ou seja, montou-se uma estrutura para sustentar os de cima.