O grupo francês Parole, em artigo para o jornal La Croix, 28-04-2009, comenta alguns pontos centrais em que a Igreja deveria "morrer". Segundo o grupo, "crer em Deus não é suficiente. É preciso crer também na vida, esperar, arriscar-se em um futuro incerto, a fim de abrir caminhos novos". O grupo Parole é formado pelos católicos leigos Guy Aurenche, Jean-François Bouthors, Jean Delumeau, Laurent Grzybowski, Monique Hébrard, Elena Lasida, Paul Malartre, Gabriel Marc, Bernard Perret, Marie-Christine Ray, Jean-Pierre Rosa e Gérard Testard. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: UNISINOS
A revogação da excomunhão aos bispos integralistas, as proposições negacionistas de dom Williamson, o incrível caso do Recife e a polêmica sobre o preservativo e a Aids suscitaram debates apaixonados entre os católicos.
Alguns aproveitaram a ocasião para lembrar que um "cisma silencioso" está ocorrendo debaixo dos nossos olhos, e que esses erros de gestão o agravam. Outros se sentem interpelados a reafirmar a sua ligação profunda com o Concílio Vaticano II.
Mas não é também a ocasião para reafirmar o nosso amor a Jesus Cristo e a nossa pertença à sua Igreja? Porque ela está unida a Cristo, ela é sinal da união íntima com Deus e da unidade do gênero humano.
Mas essa Igreja não é puro espírito! Ele está encarnada e, por isso, inscrita na história. Isso significa que, mesmo vivendo do espírito de Deus, ela também é humana, portanto, pecadora. Sem afastar-nos dessa pertença e justamente porque amamos a nossa Igreja, queremos chamar a atenção da sua hierarquia a alguns graves problemas de várias ordens.
De gestão, sobretudo. Disfunções aparecem em todos os níveis: da Cúria às Conferências Episcopais, passando pelos Sínodos diocesanos. A eclesiologia de comunhão não está bastante desenvolvida e vivida, o que gera uma fraqueza da colegialidade e um medo manifesto no exercício da subsidiariedade. A Igreja se apresenta como uma hierarquia piramidal, que o mundo moderno, ao nosso ver, com razão, rejeita.
Depois, há problemas disciplinares. As questões dos divorciados "recasados", da moral sexual a partir da "Humanae Vitae" (1968) e do estatuto de inferioridade das mulheres na Igreja representam, para muitos católicos, um fardo muito pesado para carregar. Por que um status quo assim?
Há problemas com o fundamento comunitário da Igreja: vivazes comunidades de proximidade, que podem contar com os próprios cristãos assumindo responsabilidades, escolhem os seus responsáveis de acordo com o bispo. E isso não coloca em discussão o ministério fundamental do padre, mas, pelo contrário, coloca-o no coração da sua missão (Palavra e Eucaristia). A experiência da diocese de Poitiers é uma tentativa feliz nesse sentido. Por que não é mais reconhecida? Estudada? Experimentada também em outros lugares, nessa forma particular ou em outra?
Há problemas que se referem à renovação dos ministérios, graças à aparição de novas formas de engajamento de autênticos discípulos de Cristo capazes de viver em unidade com o bispo (e com o presbitério) e com a comunidade de pertença. Uma análise teológica e eclesiológica "do que está acontecendo" hoje é absolutamente necessária. É preciso esperar que os leigos desejem presidir a Eucaristia para começá-la?
O mundo muda, e muda rapidamente. A Igreja não deve ter medo de ir contra a corrente em certos debates sociais e de fundar o seu pensamento no sentido do homem em aliança com Deus. Ao mesmo tempo, nesse mundo que muda, para responder melhor aos desejos dos homens, o seu modo de estar presente e de agir deve mudar, a sua linguagem deve evoluir, e a vida comunitária deve renovar a sua expressão.
Semelhante mudança não poderá se realizar sem que a Igreja aceite morrer a certos aspectos dos seus modos de viver para renascer em outros. Morrer é difícil. Pressupõe a aceitação da perda e do abandono, na confiança de que uma vida nova é dada. Portanto, é esse tipo de passagem que nós esperamos.
Não é talvez o coração do mistério cristão? Esse ato de fé e de abandono requer também que creiamos que a existência gerou a instituição, e não o contrário. Crer em Deus não é suficiente. É preciso crer também na vida, esperar, arriscar-se em um futuro incerto, a fim de abrir caminhos novos.
Fonte: UNISINOS
A revogação da excomunhão aos bispos integralistas, as proposições negacionistas de dom Williamson, o incrível caso do Recife e a polêmica sobre o preservativo e a Aids suscitaram debates apaixonados entre os católicos.
Alguns aproveitaram a ocasião para lembrar que um "cisma silencioso" está ocorrendo debaixo dos nossos olhos, e que esses erros de gestão o agravam. Outros se sentem interpelados a reafirmar a sua ligação profunda com o Concílio Vaticano II.
Mas não é também a ocasião para reafirmar o nosso amor a Jesus Cristo e a nossa pertença à sua Igreja? Porque ela está unida a Cristo, ela é sinal da união íntima com Deus e da unidade do gênero humano.
Mas essa Igreja não é puro espírito! Ele está encarnada e, por isso, inscrita na história. Isso significa que, mesmo vivendo do espírito de Deus, ela também é humana, portanto, pecadora. Sem afastar-nos dessa pertença e justamente porque amamos a nossa Igreja, queremos chamar a atenção da sua hierarquia a alguns graves problemas de várias ordens.
De gestão, sobretudo. Disfunções aparecem em todos os níveis: da Cúria às Conferências Episcopais, passando pelos Sínodos diocesanos. A eclesiologia de comunhão não está bastante desenvolvida e vivida, o que gera uma fraqueza da colegialidade e um medo manifesto no exercício da subsidiariedade. A Igreja se apresenta como uma hierarquia piramidal, que o mundo moderno, ao nosso ver, com razão, rejeita.
Depois, há problemas disciplinares. As questões dos divorciados "recasados", da moral sexual a partir da "Humanae Vitae" (1968) e do estatuto de inferioridade das mulheres na Igreja representam, para muitos católicos, um fardo muito pesado para carregar. Por que um status quo assim?
Há problemas com o fundamento comunitário da Igreja: vivazes comunidades de proximidade, que podem contar com os próprios cristãos assumindo responsabilidades, escolhem os seus responsáveis de acordo com o bispo. E isso não coloca em discussão o ministério fundamental do padre, mas, pelo contrário, coloca-o no coração da sua missão (Palavra e Eucaristia). A experiência da diocese de Poitiers é uma tentativa feliz nesse sentido. Por que não é mais reconhecida? Estudada? Experimentada também em outros lugares, nessa forma particular ou em outra?
Há problemas que se referem à renovação dos ministérios, graças à aparição de novas formas de engajamento de autênticos discípulos de Cristo capazes de viver em unidade com o bispo (e com o presbitério) e com a comunidade de pertença. Uma análise teológica e eclesiológica "do que está acontecendo" hoje é absolutamente necessária. É preciso esperar que os leigos desejem presidir a Eucaristia para começá-la?
O mundo muda, e muda rapidamente. A Igreja não deve ter medo de ir contra a corrente em certos debates sociais e de fundar o seu pensamento no sentido do homem em aliança com Deus. Ao mesmo tempo, nesse mundo que muda, para responder melhor aos desejos dos homens, o seu modo de estar presente e de agir deve mudar, a sua linguagem deve evoluir, e a vida comunitária deve renovar a sua expressão.
Semelhante mudança não poderá se realizar sem que a Igreja aceite morrer a certos aspectos dos seus modos de viver para renascer em outros. Morrer é difícil. Pressupõe a aceitação da perda e do abandono, na confiança de que uma vida nova é dada. Portanto, é esse tipo de passagem que nós esperamos.
Não é talvez o coração do mistério cristão? Esse ato de fé e de abandono requer também que creiamos que a existência gerou a instituição, e não o contrário. Crer em Deus não é suficiente. É preciso crer também na vida, esperar, arriscar-se em um futuro incerto, a fim de abrir caminhos novos.