30/05/2009

Monge Enzo Bianchi

Assim o Deus do dinheiro engana os homens


O jornal La Repubblica, 28-05-2009, publicou o texto da palestra que Enzo Bianchi, prior do Mosteiro de Bose, na Itália, apresentou em Bolonha para o ciclo "Regina Pecunia". A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: UNISINOS



Pecúnia, a prata, o dinheiro: o motor da economia? O meio de troca por excelência que se impôs como padrão universal? Medida não só para o mercado dos bens e dos serviços, mas também medida do mercado do trabalho? O dinheiro me leva a expressar o valor econômico mediante o adjetivo "caro" ("Este produto é mais ou menos caro..."), paralelamente ao efeito que induz a dizer a um outro "caro" ("Meu caro..."). Caro, cher, dear: uma mesma palavra para medir o dinheiro e para medir o afeto...

Mas o dinheiro é um meio ou um fim? Depende para quem. Certamente não é um fim para a economia, que busca a produção e a distribuição dos bens e dos serviços. Não é um fim nem para a empresa, que quer criar uma riqueza, algo útil. E para o indivíduo? O fim é a felicidade que depende do amar e do ser amado, do sentido encontrado no viver, de um certo bem-estar material, portanto também do dinheiro. Sim, para alguns o dinheiro é percebido como a chave para alcançar a felicidade.

Platão, nos Nomoi, e Aristóteles, na Politeia, pensam que é natural tirar vantagem da terra e dos animais, mas não enriquecer com o dinheiro. Do mesmo modo, os profetas de Israel, seguidos pelos Padres da Igreja, condenam os que emprestam dinheiro por interesse, criando dinheiro com o dinheiro.

Utilizamos a palavra "caro" para expressar o valor econômico e o valor afetivo: mas a única salvação está no amor pelo próximo.

Essa patologia da ligação com o dinheiro foi definida como "cobiça" e lida como a fonte de muitos males, de enormes desastres, econômicos, políticos e hoje também ecológicos.

Portanto, o dinheiro é um meio necessário; em si mesmo não é nem um bem nem um mal: é um instrumento que existe desde o século VI a.C. sob a forma de moeda, que está na ordem das mediações e, como tal, permite a troca (do mesmo modo que a linguagem, por exemplo), é "uma vitória sobre a distância" – afirma Georg Simmel na sua Filosofia do Dinheiro –, é um meio que permite abater as fronteiras sociais e geográficas. Por outro lado, o dinheiro, justamente pela sua qualidade representativa, pode ser um fim em si mesmo, um agente de acumulação das riquezas, capaz de possuir uma grandeza autônoma e uma força sedutora.

Lao Tze, o sábio chinês fundador do taoísmo (século VI a.C.), relata uma história paradigmática, a história de Tsi. Este era um homem seduzido pelo dinheiro, ávido por riqueza. Uma manhã, tendo ido ao mercado, viu um banco de câmbio, roubou o dinheiro e fugiu, mas foi logo preso por um guarda que lhe perguntou: "Como você pôde pensar em roubar esse dinheiro e fugir inobservado?". Tsi respondeu: "Enquanto eu roubava o dinheiro, eu não via as pessoas, via só o dinheiro!". Eis, portanto, o dinheiro exerce um tal fascínio que oculta a presença de outras pessoas e de outras coisas, um fascínio que concede até a força de roubar...

Sim, o dinheiro nos seduz, entra em nós como uma presença eficaz e contribui de modo surdo, mas real, na tessitura de nossas relações, das nossas relações com as coisas e com os homens. Eu possuo o dinheiro, mas o dinheiro também me possui. O dinheiro tem um lugar invasivo nos meus desejos, decide muitos dos meus desejos.

Por isso, no Antigo Testamento, o dinheiro é definido pela palavra "keseph", cuja raiz verbal (kasaph) indica o "desejar ardentemente", o verdadeiro "derreter-se" por alguma coisa. Torna-se então relativa a leitura do Evangelho, onde o dinheiro é personificado. Jesus declara que o dinheiro é uma potência, ou melhor, um deus: "Ninguém pode servir a dois senhores: ou odiará um e amará o outro, ou aderirá a um e desprezará o outro: não podeis servir a Deus e ao dinheiro". O termo "dinheiro" está em oposição a Deus, o amor pelo dinheiro exclui o amor por Deus. Esse é o radicalismo evangélico de Jesus. O dinheiro para ele não é simplesmente uma coisa que o homem pode possuir ou não: pode se tornar facilmente um deus, um ídolo ao qual sacrificamos facilmente a vida dos outros e alienamos a nós mesmos. O autor da Carta de São Tiago descreve o dinheiro como um verme que devora aqueles que o possuem, enganando-os e levando-os à destruição e, ao mesmo tempo, é fonte de injustiça: "Vós, ricos, chorai e gemei por causa das desgraças que sobre vós virão. Vossas riquezas apodreceram e vossas roupas foram comidas pela traça. Vosso ouro e vossa prata enferrujaram-se e a sua ferrugem dará testemunho contra vós e devorará vossas carnes como fogo. Entesourastes nos últimos dias! Eis que o salário, que defraudastes aos trabalhadores que ceifavam os vossos campos, clama, e seus gritos de ceifadores chegaram aos ouvidos do Senhor dos exércitos".

No cristianismo, além disso, a relação com o dinheiro deve ser lido no espaço da possível idolatria ("A cobiça é idolatria"), e "o ídolo, antes de ser um falso teológico, é um falso antropológico" (Adolphe Gesché), uma alienação do homem. Não nos esqueçamos, a propósito, que o termo "mammona" [dinheiro, em italiano] deriva da raiz hebraica "aman" (da qual vem "amém"), que contém a ideia da adesão com confiança, portanto da fé. O dinheiro, de fato, pede fé-confiança em si mesmo e se torna segurança, falsa segurança contra a morte, saturação das necessidades mais verdadeiras que habitam o coração do homem, presença poderosa que induz a ver só ele, o dinheiro, e a não ver os outros, a agir sem os outros e, se necessário, também contra os outros. Por isso, as palavras de Jesus são duras: "Não acumuleis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam [...] Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração".

Eis a pergunta essencial: onde está o meu coração? Qual é a verdadeira riqueza para mim? O dinheiro, para mim, é instrumento de relação e de partilha, e portanto de comunhão com os outros, ou instrumento de egolatria? E atenção: Jesus não era um profeta pauperista que não tocava o dinheiro. Na sua comunidade havia uma "caixa comum", justamente do dinheiro colocado em comum, não submetido ao regime do "meu" e do "teu", mas destinado à "communitas", destinado também a quem tinha necessidades, de modo que a koinonia [comunhão eclesial] foi a norma do viver juntos. Compreendemos então como normativo para a comunidade cristã a descrição de Lucas da Igreja primitiva de Jerusalém, nascida do Pentecostes: "Todos aqueles que se tornavam fiéis [...] tinham todas as coisas em comum". "Tudo entre eles era comum [...] nem havia entre eles nenhum necessitado".

Na história do cristianismo, essa "utopia" foi ininterruptamente meditada e interpretada, e ainda hoje as exigências colocadas pelo Evangelho não perderam nada da sua atualidade e do seu valor inspirador e normativo para a práxis cristã. Seria preciso a honestidade de nos perguntarmos qual o motivo de termos nos tornado tão relutantes em escutar essas palavras, que soam incomuns aos ouvidos da maior parte dos cristãos: por que insistimos tanto em outros aspectos do agir moral, enquanto preferimos ser tépidos ou até calar sobre a necessidade da partilha material dos bens, via mestra para eliminar, ou pelo menos atenuar, a necessidade e a pobreza?

A "regina pecunia" [rainha pecúnia], o deus dinheiro, exige confiança, fidúcia, subtraindo-as de tal modo da relação com os outros. E neste tempo em que – como Luigi Zoja escreveu recentemente – não só Deus morreu, como o próximo também morreu, o dinheiro domina e seduz mais do que nunca. Na realidade, o único inimigo capaz de duelar contra a morte, o único capaz de vencê-la não é o dinheiro, mas o amor, o amor do outro e dos outros, é a comunicação, a partilha, a comunhão naquilo que for possível.