Faz bem ao coração ler as palavras do cardeal Carlo Maria Martini e do padre Luigi Verzé, retiradas do livro que escreveram juntos. "Siamo tutti sulla stessa barca" [Estamos todos no mesmo barco, em tradução livre]]: palavras de compreensão, de abertura e de caridade cristã das quais há muito tempo se sentia uma grande necessidade. A análise é de Isabella Bossi Fedrigotti, publicada no jornal Corriere della Sera, 20-05-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: UNISINOS
E o pensamento de que ambos estão muito velhos e que um dos dois também está muito doente deveria, em certo sentido, tranquilizar os fiéis mais tradicionalistas e, por isso, talvez, perturbados, senão até mesmo escandalizados, pelas suas teorias: entre todos os homens da Igreja, eles já não seriam talvez os mais próximos de Deus e, por isso, capazes, quem sabe, de melhor entender a sua voz?
Esses fiéis podem se tranquilizar duplamente porque, talvez mais no imaginário comum um pouco estereotipado do que na realidade dos seus corações, um sempre foi considerado mais de esquerda, e o outro, mais de direita: dois homens, por isso, que seriam considerados de ideias contrastantes em tudo ou em quase tudo.
Se só o cardeal Martini tivesse falado, alguém pensaria: o padre comunista de sempre. Se, ao invés, só o Pe. Verzé tivesse falado, algum outro raciocinaria: o que não se faz para ir ao encontro do Presidente do Conselho. Pelo contrário, ambos concordaram em desejar que a Igreja se decida, enfim, a conceder os sacramentos também aos divorciados casados novamente. Portanto, aqui está toda a pedra de escândalo, a pequena grande revolução que numerosas pessoas em todo o mundo esperam há tempos, muitas vezes também no sofrimento mais profundo e, o que é pior, insolúvel.
Habituados a escutar confessores que, como condição para se aproximarem da Eucaristia, propõem-lhes que vivam em castidade, senão, até mesmo, que voltem para o primeiro marido ou a primeira mulher, talvez por sua vez amplamente casados de novo, é com compreensível alívio e gratidão que eles irão acolher as palavras dos dois ilustres e idosos sacerdotes.
O pensamento se dirige particularmente àqueles fiéis que, abandonados pelo companheiro, veem-se obrigados, para poder continuar recebendo os sacramentos – uma consolação no desconforto do fracasso sentimental –, a uma perspectiva de perene solidão, excluídos da festa e condenados por causa de um divórcio repentino, por uma culpa que não cometeram, segundo uma justiça que tem dificuldade em se reconhecer como divina.
Com esse pronunciamento, Pe. Verzé e o cardeal Martini enfrentaram uma questão delicada sobre a qual, em geral, a hierarquia eclesiástica não se mostra muito possibilista: simplificando ao máximo se o homem é feito para a religião ou a religião para o homem. E optaram, assim parece, pela segunda hipótese.
Dado o grande número de afastamentos da prática eclesiástica e dadas também, no Brasil por exemplo, as muitas conversões a outras fés com regras menos rígidas do que a nossa católica, se poderia considerá-la, à primeira vista, uma escolha sugerida por uma realpolitik nua e crua. Porém, pensando na história dos dois homens, lendo os trechos das suas conversas e escutando o tom triste das suas vozes, tem-se mais a impressão de que o pedido comum é o fruto de uma reflexão baseada na necessidade urgente de que a Igreja – não apenas na teoria, mas também na prática – esteja verdadeiramente próxima das necessidades dos fiéis.
Portanto, uma escolha de compreensão humana, de indulgência e de caridade: não o homem para a religião, mas a religião para o homem. Com uma atenção inteligente à evolução da história e às mudanças dos tempos e dos costumes: que não se deve considerar necessariamente – como às vezes se tem a impressão de que a Igreja considere – como obra do diabo.
Fonte: UNISINOS
E o pensamento de que ambos estão muito velhos e que um dos dois também está muito doente deveria, em certo sentido, tranquilizar os fiéis mais tradicionalistas e, por isso, talvez, perturbados, senão até mesmo escandalizados, pelas suas teorias: entre todos os homens da Igreja, eles já não seriam talvez os mais próximos de Deus e, por isso, capazes, quem sabe, de melhor entender a sua voz?
Esses fiéis podem se tranquilizar duplamente porque, talvez mais no imaginário comum um pouco estereotipado do que na realidade dos seus corações, um sempre foi considerado mais de esquerda, e o outro, mais de direita: dois homens, por isso, que seriam considerados de ideias contrastantes em tudo ou em quase tudo.
Se só o cardeal Martini tivesse falado, alguém pensaria: o padre comunista de sempre. Se, ao invés, só o Pe. Verzé tivesse falado, algum outro raciocinaria: o que não se faz para ir ao encontro do Presidente do Conselho. Pelo contrário, ambos concordaram em desejar que a Igreja se decida, enfim, a conceder os sacramentos também aos divorciados casados novamente. Portanto, aqui está toda a pedra de escândalo, a pequena grande revolução que numerosas pessoas em todo o mundo esperam há tempos, muitas vezes também no sofrimento mais profundo e, o que é pior, insolúvel.
Habituados a escutar confessores que, como condição para se aproximarem da Eucaristia, propõem-lhes que vivam em castidade, senão, até mesmo, que voltem para o primeiro marido ou a primeira mulher, talvez por sua vez amplamente casados de novo, é com compreensível alívio e gratidão que eles irão acolher as palavras dos dois ilustres e idosos sacerdotes.
O pensamento se dirige particularmente àqueles fiéis que, abandonados pelo companheiro, veem-se obrigados, para poder continuar recebendo os sacramentos – uma consolação no desconforto do fracasso sentimental –, a uma perspectiva de perene solidão, excluídos da festa e condenados por causa de um divórcio repentino, por uma culpa que não cometeram, segundo uma justiça que tem dificuldade em se reconhecer como divina.
Com esse pronunciamento, Pe. Verzé e o cardeal Martini enfrentaram uma questão delicada sobre a qual, em geral, a hierarquia eclesiástica não se mostra muito possibilista: simplificando ao máximo se o homem é feito para a religião ou a religião para o homem. E optaram, assim parece, pela segunda hipótese.
Dado o grande número de afastamentos da prática eclesiástica e dadas também, no Brasil por exemplo, as muitas conversões a outras fés com regras menos rígidas do que a nossa católica, se poderia considerá-la, à primeira vista, uma escolha sugerida por uma realpolitik nua e crua. Porém, pensando na história dos dois homens, lendo os trechos das suas conversas e escutando o tom triste das suas vozes, tem-se mais a impressão de que o pedido comum é o fruto de uma reflexão baseada na necessidade urgente de que a Igreja – não apenas na teoria, mas também na prática – esteja verdadeiramente próxima das necessidades dos fiéis.
Portanto, uma escolha de compreensão humana, de indulgência e de caridade: não o homem para a religião, mas a religião para o homem. Com uma atenção inteligente à evolução da história e às mudanças dos tempos e dos costumes: que não se deve considerar necessariamente – como às vezes se tem a impressão de que a Igreja considere – como obra do diabo.