15/04/2009

Chorar debaixo das macieiras: os desafios da Igreja hoje

Pietro de Paoli, escritor e autor de"La Confession de Castel Gandolfo" (Editora Plon, 2008), em artigo para o jornal La Croix, 12-04-2009, relata um grave momento da vida do teólogo Yves Congar, fundamental para se compreender o Concílio Vaticano II. "Nestes tempos de aflição, volto-me ao padre Congar e relembro que o tempo das lágrimas também deve ser o tempo da semeadura", afirma De Paoli. A tradução é de Moisés Sbardelotto. Fonte: UNISINOS



Muitos como eu, nestas últimas semanas, foram tomados por um profundo sentido de tristeza e de cansaço. Esse estado de ânimo e de coração me levou a reencontrar um trecho que me havia tocado muito durante a primeira leitura do "Journal d'un théologien", de Yves Congar. Ali, o autor relata como, no início do outono de 1956, depois de ter passado os anos anteriores tentando conservar o direito de publicar e de ensinar, se encontrou "exilado" em Cambridge. Lá, fez a experiência de um total abandono e desencorajamento. Foi pressionado por um imenso sentimento de solidão, de impotência, de inutilidade, até chegar a pensar que a sua vida era um fracasso total.

Assim, um dia, durante uma caminhada sob o céu cinza e baixo daquele terrível "fine english weather", como dizem os nossos amigos britânicos, deixou-se cair debaixo de uma árvore e, na chuva sutil e incessante, "encontrou-se a chorar amargamente (...) 'Dominus autem assumpsit me': estas lágrimas, Deus não as sentirá?". Esse homem tem 52 anos, é um dos teólogos mais brilhantes do seu tempo, resistiu à prova da prisão na Alemanha e agora se reduzia às lágrimas e à sensação do fracasso. Sim, a Igreja pode fazer sofrer, pode fazer sofrer cruelmente os melhores dos seus filhos e das suas filhas.

Se me detenho sobre esse episódio da vida de Yves Congar, é porque o período da vida da Igreja em que ele se situa talvez tenha semelhanças com o nosso – ou pelo menos é essa a esperança que eu alimento.

O ano de 1956 é o fim do pontificado de Pio XII, um período em que parece, então, segundo todos os observadores, que a Igreja católica esteja em pleno "enrijecimento" doutrinal e disciplinar. Há quase dez anos, as condenações chovem sobre os pesquisadores, sobre os teólogos, sobre iniciativas como a dos padres operários na França. É novamente uma espécie de grande crise antimodernista que percorre a Igreja, absolutamente distanciada do impulso de liberdade e de energia que conquistou os povos com o fim da guerra.

Por que lembrar o futuro cardeal Congar em lágrimas debaixo da macieira? Porque, justamente, ele não sabe – e ninguém sabe – que ele será chamado a desempenhar um papel de primeiríssimo lugar no Concílio Vaticano II, ao qual ninguém ainda sabe que ele será convocado. Esse homem acredita que sua vida está acabada, enquanto, ao invés, está por começar. Esse homem acredita que o seu trabalho intelectual esteja perdido, e, pelo contrário, está só sepultado, como o grão de trigo semeado na terra, e ninguém suspeita a colheita que ele ainda dará.

Nestes tempos de aflição, volto-me ao padre Congar e relembro que o tempo das lágrimas também deve ser o tempo da semeadura.

Não é um erro chorar pelo espetáculo da nossa Igreja que parece enrijecer-se, pelo menos nos posicionamentos de alguns dos que pertencem à hierarquia. Seria um erro abandonar, deixar que tudo se perdesse. A Igreja católica não pertence a Roma, pertence a Cristo, que é a sua cabeça, pertence a nós que formamos o seu corpo.

Nessa perspectiva, os problemas suscitados pelo padre Congar – lugar dos leigos, colegialidade, diálogo ecumênico... – ainda são atuais, porque são o meio de tornar o grande corpo da Igreja vivo e em comunicação. Em comunicação com o mundo para lhe anunciar o Evangelho, para fazer ressoar o tambor da Boa Nova. Mas há novos desafios; mundialização, divisão dos recursos da terra, defesa do ambiente. É preciso levantar os olhos. Nem as perguntas nem as respostas se encontram nos missais. E nem nos dogmas. Talvez estejam no trabalho da inteligência e do amor, se aceitarmos fazê-lo.

Eu não proclamo um otimismo beato, nem uma Esperança relegada ao fim dos tempos. Hoje, nesta mensagem, cultivo uma esperança razoável: a de que a crise em que nos encontramos é o prelúdio de um grande sopro de renovação, talvez o segundo sopro daquele Concílio tão denegrido, quase condenado por alguns, enquanto a sua atuação apenas começou, enquanto apenas nos demos conta do tesouro que os padres conciliares nos deixaram.

Por isso, será preciso conseguir despedaçar a grande loucura egotista que nos atravessa para nos tornarmos de novo verdadeiramente católicos. Porque é isso que está verdadeiramente em jogo, voltar à fonte da nossa catolicidade, isto é, à vocação universal. "Ide a todas as nações, até os confins da terra...", eis a nossa identidade. Nós, católicos, não nos situamos na lógica de um pequeno resto de puros e poucos que deveriam resistir heroicamente a um mundo hostil. Somos mestiços, cidadãos do céu e da terra.

Sim, até choramos, mas depois enxugamos as lágrimas e nos ocupamos do que nos compete: isto é, a tarefa que Deus nos confia, a preocupação e o cuidado da humanidade inteira.