01/04/2009

Dom Sérgio da Rocha

Sim' à vida!


"Escolhe, pois, a vida" foi o lema da Campanha da Fraternidade, em 2008, retomando uma frase bíblica que se encontra no Livro do Deuteronômio (Dt 30,19). Esta Palavra exprime um grande "sim" à vida: a vida nascente desde a concepção, a vida das mães e gestantes, a vida dos pacientes terminais, a vida dos pobres e sofredores, a vida dos moradores de rua, a vida das vítimas da violência, a vida dos encarcerados, etc. Um "sim" que envolve a defesa e promoção da vida em qualquer situação, condição ou fase de desenvolvimento, em que se encontrar. Um "sim" que abraça a todos, mas especialmente a vida que se encontra mais fragilizada e indefesa. Por isso, trata-se de um "sim" generoso, sem medida ou mesquinhez, um "sim" permanente, que deve ser constantemente atualizado nas situações do cotidiano e diante das ameaças à vida na sociedade.

A Campanha da Fraternidade de 2008 passou, mas não o seu lema, nem a bela e desafiadora tarefa a que se propôs: defender e promover a vida. A Palavra "escolhe, pois, a vida" continua a ser proclamada na luta de tantos em defesa da vida da pessoa humana, "imagem e semelhança" de Deus. Continua a ser critério de discernimento ético e tomada de decisão para muitos diante das difíceis questões envolvendo a vida e a morte. Continua na nova Campanha da Fraternidade de 2009, pois "segurança pública" é um desdobramento e uma exigência da promoção e defesa da vida. O lema "escolhe, pois a vida" continua valendo, pois a Palavra de Deus permanece! Acolher e reconhecer a própria vida e a vida das outras pessoas como dom é tarefa permanente que enche o mundo de ternura, esperança e alegria.

Um valioso documento da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), intitulado "Evangelização e Missão Profética da Igreja", publicado em 2005, destacava três "sim" à vida, em meio aos novos desafios sociais e às conquistas das biotecnologias: a) um "sim" às pesquisas com células-tronco adultas; b) um "sim" à vida em todas as suas etapas e em todas as suas manifestações; c) um "sim" à biodiversidade. Embora a reflexão estivesse situada especialmente no campo das pesquisas científicas, estendia-se a outra situações, tais como a miséria e a violência, o direito a vida dos anencefálicos e dos pacientes terminais, recordando que o fato de se ter menor condição ou qualidade de vida não implica em menor dignidade ou menor direito, enquanto pessoa humana. A dignidade e o direito à vida são iguais para todos e a vida indefesa e violada deve receber especial atenção e empenho dos que a cercam, das comunidades e da sociedade.

É preciso recordar e atualizar o "sim" à vida no contexto em que vivemos, marcado por graves e crescentes violações à vida humana, como o abuso sexual de crianças, estupros, abortos, tráfico de pessoas, trabalho escravo, dentre tantos outros sérios problemas. O triste episódio, ocorrido recentemente em Pernambuco, envolvendo o abuso sexual de uma criança pelo padastro, seguido de gravidez e aborto, causou muita dor e indignação. Contudo, lamentavelmente, boa parte do noticiário e das conversas ficou polarizada na delicada questão da excomunhão, negligenciando a necessária reflexão sobre os fatores que têm provocado estupros, violência sexual contra crianças e adolescentes e abortos. Infelizmente, aos poucos, outros casos semelhantes de abuso de meninas ocorridos na própria casa foram sendo noticiados, mostrando que essa realidade não está confinada à tela da TV, mas se encontra disseminada. Contudo, não basta a indignação. É tempo de renovar o nosso "sim" à vida e pensar como vai o nosso respeito e valorização da vida, a começar da vida das pessoas com as quais convivemos. É tempo de renovar o nosso empenho em favor da vida, refletindo sobre o que está acontecendo ao nosso redor e na sociedade.

Dentre muitas outras questões, é urgente pensar sobre: os valores que têm norteado o nosso viver; a vida em família, cuja importância precisa ser resgatada; a postura ética diante da sexualidade, muitas vezes, banalizada e desumanizada; os direitos sociais, especialmente, o direito a vida e a assistência médica das mães e das gestantes, dos nascituros e das crianças. É tempo de renovar o nosso "sim" à vida, fazendo a experiência da vida nova em Cristo, animada pela fé e vivida no amor. O Deus da Vida nos sustenta em nosso "sim" à Vida.

Fonte: Arquidiocese de Teresina